Vestígio de floresta é encontrado na Antártica
Ao longa da história do nosso planeta, a biodiversidade sofreu uma série de extinções maciças, que levaram ao desaparecimento de até 90% das espécies existentes. E claro que, com tantas mudanças, as coisas como conhecemos hoje e tomamos como um cenário quase imutável, nem sempre foram assim.
Por exemplo, desde tempos que nem nos lembramos, os pólos do planeta são parecidos com grandes terrenos baldios congelados. Isso não quer dizer que não existe vida lá. Existe. Mas é claro que também exitem as razões pelas quais os humanos e a maioria dos outros animais se apega à climas mais hospitaleiros e mais próximos ao equador.
Mas o que muitos não sabem é que os polos nem sempre foram terrenos baldios. Antigamente, no nosso planeta , as coisas eram diferentes. No meio do período cretáceo, que foi há 90 milhões de anos, as concentrações densas de CO2 na atmosfera teriam criado temperaturas globais muito quentes. Com isso, as camadas de gelo polar teriam derretido e o nível do mar subido 170 metros, a mais do que é hoje.
E por causa de uma descoberta científica, é possível saber como era o Polo Sul nessa época. Em uma expedição, feita em 2017, os pesquisadores perfuraram profundamente o solo embaixo do fundo do mar da Antártida Ocidental. O lugar, que eles perfuraram, fica perto das geleiras de Pine Island e Thwaites. E está a 900 quilômetros de distância do polo sul.
Eles perfuraram aproximadamente 30 metros de profundidade e constataram a composição de sedimentos repousando mais perto da superfície.
“Durante as avaliações iniciais a bordo, a coloração incomum da camada de sedimentos rapidamente chamou nossa atenção. As primeiras análises indicaram que, a uma profundidade de 27 a 30 metros abaixo do fundo do oceano, encontramos uma camada originalmente formada em terra, e não no oceano”, explicou o geólogo Johann Klages, do Alfred Wegener Institute, Helmholtz Center for Polar and Marine Research, na Alemanha.
Descoberta
Esses sedimentos estavam em um território desconhecido em vários sentidos. Ninguém nunca tinha tirado uma amostra do solo do período cretáceo, tão ao sul do planeta. E os pesquisadores não estavam preparados para o que as tomografias computadorizadas de raio X mostraram.
As varreduras mostravam uma intrincada rede de raízes de plantas fossilizadas. Nas análises microscópicas, também foram encontradas evidências de pólen e esporos. Todos eles apontavam para restos preservados de uma antiga floresta tropical. Essa floresta existia na Antártica, há cerca de 90 milhões de anos. Isso foi eras antes de a paisagem do lugar ser transformada em gelo.
“As inúmeras plantas restantes indicam que a costa da Antártida Ocidental era, naquela época, uma floresta densa e temperada. Semelhante às florestas encontradas hoje na Nova Zelândia”, disse o paleoecologista Ulrich Salzmann, da Universidade de Northumbria, no Reino Unido.
A descoberta não mostra apenas que a vida polar das plantas existia há muito tempo. Mas também sugerem como isso poderia ser possível. De acordo com as estimativas da equipe, por causa da deriva das placas continentais, o lugar que eles perfuraram estaria centenas de quilômetros mais perto do polo sul. Isso em uma época em que os dinossauros ainda andavam pelo nosso planeta.
Clima
Para saber como a existência de uma floresta tropical no polo sul seria possível os pesquisadores usaram uma modelagem para reconstruir como seria o clima na região. Por causa dos níveis altos de CO2, o ambiente seria super aquecido. Com uma temperatura média anual de 12º Celcius na Antártica.
Uma vegetação densa cobria todo o continente. E as camadas de gelo que conhecemos hoje seriam inexistentes nessa época.
“Antes do nosso estudo, a suposição geral era de que a concentração global de dióxido de carbono no Cretáceo era de aproximadamente 1.000 partes por milhão (ppm). Mas em nossos experimentos baseados em modelos, foram necessários níveis de concentração de 1.120 a 1.680 ppm para atingir as temperaturas médias na Antártida”, explica o geocientista Torsten Bickert, da Universidade de Bremen, na Alemanha.
“Precisamos examinar esses climas extremos que já aconteceram no planeta, porque eles nos mostram como é o clima de estufa. Definitivamente, estamos em um momento interessante. Porque se continuarmos o que estamos fazendo agora, isso pode levar a algo que não podemos mais controlar”, conclui Klages.