No pico da pandemia do coronavírus, Cemitério de Porto Velho sepultou mais de 200 corpos de vítimas da covid-19
No pico da pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2 e variantes em Rondônia, em março a equipe do Cemitério Santo Antônio, localizado na estrada com o mesmo nome, em Porto Velho, sepultou 242 corpos de vítimas da covid-19; em janeiro 59, e em fevereiro 125. Os três primeiros meses de 2021 totalizaram 426 mortos. No mês passado, a equipe trabalhou diariamente em dois turnos: das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h.
Gilbson Morais, 41 anos, supervisiona uma equipe de seis sepultadores, todos já vacinados com a primeira dose anti-covid-19. Um dos integrantes da equipe é do grupo de risco e está afastado, os outros cinco trabalham em dois turnos diários. “Antes da pandemia a gente achava que era alta a média diária de seis a oito sepultamentos, imagine agora”, ele comenta.
O Cemitério Santo Antônio tem 230 mil m², funciona desde 1975, desde março do ano passado reservou área exclusiva para mortos pela covid-19. Ao chegar à exaustão, com 95 mil sepultamentos realizados, a prefeitura firmou contrato de 1,8 mil gavetas com empresas particulares. Desde o dia 12 de março, os corpos são destinados a um cemitério particular.
Atualmente, o registro de óbitos na Capital está informatizado e a equipe fica sabendo com antecedência o número exato de corpos reivindicados por famílias proprietárias de jazigos. Segundo explica Gilbson, são pessoas que não abrem mão de ver seus entes sepultados um ao lado do outro. No que resulta aos trabalhadores do cemitério quebrar jazigos e readequá-los ao recebimento de outros corpos.
O supervisor lembra que anteriormente as famílias homenageavam seus entes queridos (vítimas de qualquer doença) e oravam por eles antes de descer o caixão ao túmulo, isso demorava de 20 a 40 minutos no máximo; hoje, com a covid-19 foi exigida brevidade nas cerimônias de despedida. “Tudo é breve, não ultrapassando a 15 minutos para evitar aglomeração de pessoas no velório”, ele justifica.
“Familiares não podem velar seus entes queridos, muito menos, ter um velório tradicional, devido aos riscos, daí o motivo da maioria dos caixões estarem lacrados”, explica o diretor.
O protocolo do Ministério da Saúde também recomenda que seja evitada a permanência (no cemitério) de pessoas que pertençam ao grupo de risco, entre as quais, aquelas com idade superior a 60 anos, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos. “Humanamente, eu não consigo evitar que pais, mães, avós, tios ou qualquer outro parente manifeste seu sentimento ao se despedir; digo que podem ficar noutros espaços próximos, mas sei que isso é complicado”, conta Gilbson.
Conforme o Guia para o Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus – COVID-19, publicado em março pelo Ministério da Saúde, “os velórios e funerais de pacientes confirmados ou suspeitos da doença não são recomendados durante os períodos de isolamento social e quarentena”. Mesmo assim, o documento traz uma série de orientações para quem decida por realizar a despedida, nos termos possíveis. Entre eles, é orientado “manter a urna funerária fechada durante todo o velório e funeral, evitando qualquer contato (toque/beijo) com o corpo do falecido em qualquer momento”.
A cerimônia também ocorrer em lugares ventilados, sem aglomeração de pessoas, respeitando a distância mínima de pelo menos dois metros entre elas.
PROTOCOLO RÍGIDO
A retirada do corpo deve ser feita por uma equipe de saúde, observando as medidas de precaução individual como o uso dos EPIs (Equipamentos de proteção individual: máscaras e luvas). Mesmo após a morte, as vítimas do coronavírus podem abrigar o vírus dentro do seu organismo, por isso muitas autoridades têm se questionado sobre a melhor forma de enterrar essas pessoas e os riscos envolvidos.
Caixões são fechados, principalmente, para oferecer segurança aos funcionários e familiares, evitando e minimizando os riscos à saúde. O pulmão expele todo ar que está contido, dentro do órgão, por até 72 horas, e os líquidos do corpo também são eliminados. Começam a sair os fluídos corporais e todos eles são, potencialmente, transmissores de doenças. Esse processo começa após a morte.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “exceto nos casos de febre hemorrágica (Ebola ou febre hemorrágica de Marburg) e cólera, os cadáveres geralmente não são infecciosos. Quando o foco é a covid-19, o maior risco de contaminação acontece em situações de autópsia, por isso a atenção deve ser redobrada no manuseio do corpo.