Centrogesta vai atender 21 mulheres indígenas Suruí com orientações a respeito da gravidez molar
O Centro de Referência de Doença Trofoblástica Gestacional de Rondônia (Centrogesta), do Governo de Rondônia, vai atender 21 novas pacientes indígenas Suruí. Elas se juntam às mais de trezentas mulheres que passaram pelo ambulatório para se recuperar da mola hidatiforme, desde 2014. Do grego-latino molar, massa e hydatisiaforme, aquosa gestacional é um distúrbio da gravidez em que a placenta e o feto não se desenvolvem adequadamente.
Lineia Suruí, 23 anos, acompanhada do marido Natanael, 22, deixou a filha Lorrane com a sogra, Uimajor Suruí. A bebê fará dois anos este mês. A mãe vem toda semana para a Capital, desde que a Casa de Saúde Indígena em Cacoal a enviou para o Centro Obstétrico do Hospital de Base Doutor Ary Pinheiro, que fez os procedimentos e a encaminhou ao ambulatório. Lineia se diz satisfeita com a presença do companheiro, que já interage positivamente com o Centrogesta, encarregando-se de traduzir para a língua Paíter Suruí as recomendações de saúde impressas no panfleto que ele leva até a Terra Indígena 7 de Setembro, circunscrita ao Parque do Aripuanã.
O ambulatório vem obedecendo aos sucessivos decretos governamentais que regulamentam a Saúde Pública durante a pandemia da covid-19. Em períodos normais, ali comparecem 10 a 12 pacientes semanalmente, incluindo novas e ativas. “O atendimento ambulatorial evita que a doença evolua para câncer (coriocarcinoma) e cause a morte de mulheres em idade fértil”, explica a médica coordenadora do Centrogesta, ginecologista Rita de Cássia Alves Ferreira da Costa.
MAIS FREQUENTE NO BRASIL
O atendimento em Rondônia hoje se destaca no Ministério da Saúde como parte das prevenções para a saúde da mulher. Em sua forma mais comum, a mola acomete uma em cada 200 a 400 gestações no Brasil, ou seja, cinco a dez vezes mais frequente do que na América do Norte e na Europa.
Residentes em ginecologia e obstetrícia no Hospital da Base visitam semanalmente as mulheres vítimas da doença trofoblástica, desde o centro obstétrico à remoção do material e ambulatório. A rotina do atendimento do Centrogesta, iniciada às 13h de quinta-feira, revelou o êxito desse trabalho, apesar das restrições da pandemia e do reduzido espaço na Unidade de Oncologia, que funciona no antigo Hospital Barretinho.
Em média, dois a três residentes por semana recebem da médica Rita de Cássia informações que lhes possibilitam acompanhar as pacientes. “É Rondônia contribuindo para a formação dos futuros especialistas, que a cada três anos entram no mercado”, diz a coordenadora.
Casada, 21, mãe de um menino de seis anos, Raquel dos Anjos Soares, veio de Nova Brasilândia D’Oeste, onde teve gravidez molar. O filho nascido em outubro do ano passado, morreu no final daquele mês. “Foi difícil, fizeram curetagem, aí eu fui pra São Francisco do Guaporé, fizeram mais um ultrassom”, ela descreve o roteiro antes de chegar a Porto Velho, onde segue em consultas semanais.
Jane de Araújo, 23, casada, de Buritis, tem uma filha de quatro anos, e relata: “Eu senti dor, fiz ultrassom, depois fui para o hospital do Governo e o doutor me encaminhou para o posto de saúde, e dali eu fui encaminhada ao HB”. Para ela, a atenção recebida no Centrogesta é especial: “A gente chega, participa das rodas de conversa, tira dúvidas e fala dos sentimentos, isso é bom demais”.
Juliana Medeiros Pires, advogada, 39, desabafa: “Devo minha vida ao Centrogesta, hoje posso desfrutá-la e cuidar de minha filha Valentina, de cinco anos, que estaria apenas com três anos se eu tivesse ido a óbito; seria orfã de mãe”. Ela demonstrou enorme carinho pelo Centro, ao qual atribui “zelo e competência” ao diagnosticá-la com mola completa, doença ainda pouco conhecida.
Juliana foi acompanhada por um ano e meio. “Louvo o trabalho dessas duas profissionais exemplares, surpreendentes, competentes e humanas; a precisão dos exames me fez ver que, se não tivesse passado por aqui, não estaria viva, e a elas devo minha linda vida”.
Kelly Daiane de Souza, 25, de Ariquemes, chegou acompanhada pela cunhada Jocássia Jordão. Elogiou o atendimento: “Esse trabalho da doutora Rita é essencial, porque no interior a mulher vive uma situação de fragilidade e tem problema psicológico; a maioria dos profissionais desconhece a doença, e aqui, ela faz um acolhimento maravilhoso”. Quando sentiu a mola, Kelly passou por uma conhecida associação de saúde em Porto Velho e fez ultrassonografia no HB, quando notou que havia muito líquido em sua barriga. “Ela estava grande, e eu fui à maternidade no dia dois de março; no dia nove o menino nasceu às 14h, mas só viveu até a tarde”, conta.
Na sequência, ela fez duas curetagens, teve alta em três dias e se dirigiu ao Centrogesta para ser acompanhada após vivenciar delicada situação de perda. “Eu queria muito ser mãe e hoje me informo corretamente dos métodos de prevenção e dos cuidados a tomar”, diz Kelly.
QUIMIOTERAPIA
Kheyla Daniela Steiner Kunz, 23, moradora no Distrito de União Bandeirantes, município de Porto Velho, ficou muito satisfeita, sobretudo, com o apoio psicológico. Está fazendo quimioterapia, porque a sua mola agravou-se. “Essa doença não é tão conhecida, infelizmente, e a gente sabe que está com ela, graças ao ultrassom ou ao sangramento, que foi o meu caso; tive hemorragia durante três meses e sem o acompanhamento do Centrogesta eu nem estaria aqui contando essa história pra você”, relata.
Naura Cristinne Siqueira, 33, de Cacoal, vem se tratando desde 2016 e em 2017 precisou das sessões de quimioterapia “É difícil sair de nossa cidade, por isso, a gente sofre um pouco porque precisa desse apoio pra combater esse tipo de câncer que se enraíza na gente”, conta. Naura também faz quimioterapia e considera essencial o apoio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) a garantir o espaço do Centrogesta, tanto ambulatorial quanto o do acolhimento e de reuniões das pacientes. “Se não for desse jeito, como vamos fazer?”, questionou Naura.
JOVENS
A luta do Centrogesta é contra a mortalidade materna em Rondônia. Atualmente, 75% das mulheres com gravidez molar em tratamento têm idades entre 18 e 30 anos. Em 2019, o tratamento ambulatorial somou 323 atendimentos, com 26 novas pacientes. Destas, 12 engravidaram dando à luz bebês saudáveis.
ENDEREÇO
O Centrogesta funciona na Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), antigo Barretinho, rua Aparício Carvalho, nº 1067, bairro Industrial.