Município de Nova Mamoré fez 33 anos e ainda é lembrado pelo histórico trem do século passado
Nova Mamoré nasceu no início do século XX juntamente com vário vilarejos que ladeavam os trilhos do complexo ferroviário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). A Vila Murtinho como foi primeiramente conhecida, era um dos principais pontos de parada do trem que trafegava entre Guajará-Mirim e Porto Velho. A instalação da estação foi o motivo primo do surgimento do conglomerado que deu origem à cidade, as atividades comerciais impulsionadas pela viabilidade de escoação e venda de produtos à outros municípios, fez Vila Murtinho experimentar um rápido ecodesenvolvimento.
O fato é que, com a desativação das viagens do trem, a estação de Vila Murtinho ficou isolada e amargou ao testemunhar decadência do comércio, a transformação das edificações históricas em ruínas e o abandono dos maquinários da ferrovia.
Nova Mamoré, com 30,6 mil habitantes e distante 241 quilômetros (KM) de Porto Velho, está em comemoração dos 33 anos de emancipação político administrativa. Após tantos processos sócio-econômico-históricos, a atmosfera da cidade ainda lembra um museu a céu aberto. Na praça principal, ainda pode ser encontrada sucatas e outros artefatos da extinta EFMM, assim como a ponte totalmente de ferro que dava acesso dos trens à cidade. Da mesma forma, os moradores tradicionais narram com lucidez as fazes áureas e de decadência da cidade.
Com 10,71 mil Km², é o quinto maior município do Estado de Rondônia, ocupando 4,23% de sua extensão. Limita-se com o Departamento (estado) do Beni, Bolívia, abrigando três terras indígenas (TI): Karipuna, Igarapé Ribeirão e Laje. Apenas a TI Igarapé Ribeirão encontra-se totalmente no município, as demais compõem parte de sua extensão.
BACIA LEITEIRA
A produção leiteira de Nova Mamoré alcançou 94,4 mil litros em 2019. A ordenha no plantel de 52,5 mil vacas lhe dá a terceira colocação entre as bacias estaduais. Conforme a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), dos 1.127 produtores, 981 usam tanques de resfriamento.
Com a significativa produção, ocorre no distrito de Palmeiras a tradicional Festa do Leite, onde a atração fica por conta de um queijo gigante. O último pesou 413 quilos e a cada ano os produtores tentam bater o próprio recorde. Em 2020, o evento não ocorreu devido a pandemia, mas este ano a Festa do Leite deve acontecer.
PRODUÇÃO
Em 2019 o município produziu 107 toneladas de açaí, 58 toneladas de castanha-da-amazônia e duas toneladas de látex coagulado. Embora a produção de madeira em tora declarada ao IBGE seja 8,7 mil metros cúbicos, em uma década, mais de 12 mil m³ foram extraídos ilegalmente em território indígena, conforme inquéritos da Polícia Federal. Nesse mesmo território, o município extraiu três toneladas de óleo de copaíba em 2018.
Segundo IBGE, as propriedades rurais medem 252,3 mil hectares, havendo 168,2 mil ha de pastagens que alimentam 730,5 mil cabeças de gado bovino; e 53,1 mil ha de matas e áreas de preservação permanente.
O mais recente censo feito pelo IBGE revela que a cidade tem 275 empresas, 2,02 mil pessoas empregadas; 1,7 mil assalariadas na média de 1,8 salários mínimos; 16 fundações privadas e sem fins lucrativos.
Na cidade e nos distritos de Araras, Jacinópolis, Nova Dimensão, Palmeiras e Sidney Girão circulam 5,3 mil motocicletas, 2,1 mil automóveis, 1,3 mil caminhonetes, 937 motonetas, 97 camionetas, 334 caminhões, 126 reboques e 56 semi-reboques.
Antes da pujança, a antiga vila experimentou a decadência em consequência da desativação da ferrovia, em 1972 por determinação do Governo Federal por considerá-la sem utilidade. A paralisação da linha férrea provocou estagnação no então vilarejo visto que era um ponto importante de parada do trem que iam ou vinham de Guajará-Mirim. A movimentação do trem impulsionava o comércio, pois os produtores da região agrupavam-se na vila afim de transportar seus produtos e comercializar.
Em consequência da paralisação da estação ferroviária, os moradores migraram para próximo do ramal recentemente aberto que ligou o povoado à BR-425. Neste novo local, fundaram uma nova vila com o nome de Boca, e em seguida, Vila, que passou a ser distrito. Mais tarde chamou-se Núcleo de Vila Nova, mudando, posteriormente, para distrito de Vila Nova. em alusão a Vila Murtinho, que era considerado a Vila Velha.
Tão logo o projeto de lei de autoria do então deputado Rigomero Agra chegou à Assembleia Legislativa, propondo o nome de Vila Nova, a Delegacia do IBGE alertava que havia outras unidades político-administrativas com o mesmo nome, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Assim, Agra, acrescentou o nome Mamoré em homenagear ao rio que banha o município e separa o Brasil da Bolívia.
Vila seguiu em desenvolvimento em outras áreas econômicas e hoje, pouco lembra antiga estação do trem. Foi elevado à município em 6 de julho de 1988, pela Lei nº 207, assinada pelo governador Jerônimo Santana, que a desmembrou de Guajará-Mirim.
A atual Nova Mamoré teve vários nomenclaturas neste processo envolto na passagem para município.
O vilarejo era conhecido com Vila Murtinho, após a mudança da núcleo urbano para às proximidades da BR-425 a referência da localidade passou a ser o nome Boca, depois Vila Nova. Passou à município como Vila Nova, contudo, foi revogado esta denominação devido a existências de cidades homônimas no sul do país. Surge então, uma novo batismo para o município, Vila Nova Mamoré que tempos depois sofre uma variação que o reduz para Nova Mamoré por meio da Lei Estadual nº 531 sancionada pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa, Silvernani Santos, Vila Nova Mamoré virou Nova Mamoré em dia 17 de dezembro de 1993.
CENTRO DE SAÚDE REATIVADO
Com investimentos de R$2,2 milhões provenientes de emendas parlamentares federais, a Unidade Mista de Saúde Antônio Luiz de Macedo, localizada na região agora conta com um centro cirúrgico reativado no final de 2020. Ainda no final de 2020, a Fundação Oswaldo Cruz Rondônia, em parceria com o Distrito Sanitário Especial da Funai, auxiliou populações indígenas da região a detectar a covid-19.
Atualmente, a Casa de Saúde Indígena de Guajará-Mirim é responsável pelo atendimento de 60 aldeias, onde vivem aproximadamente sete mil indígenas, incluindo os de Nova Mamoré.
No final do ano, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem e Transportes (DER) melhorou a RO-420 até Buritis, com o assentamento de tubos ármicos. A retirada de curvas e a reabertura de pistas facilitou o escoamento das safras.
O RIO E O TREM
A vila nasceu com a construção da ferrovia e a sua velha estação situa-se a 200 metros da margem do rio “Era a mais importante estação”, lembrou o escritor Manoel Rodrigues Ferreira, que em 1960 viajou pela região para uma série de reportagens para o extinto jornal A Gazeta, de São Paulo. Na memória dos moradores mais antigos do município ainda paira as lembranças nostálgicas de uma cidade produtiva, movimentada e ponto de referência no percurso do trem.
Nela desembarcava a borracha que descia dos rios bolivianos Beni e Iata. À margem do rio espalhavam-se milhares de pelas de borracha procedentes da Bolívia, transportadas para Porto Velho, onde eram reembarcadas em navios para Belém (PA).
Ali também eram embarcadas mercadorias dos produtores bolivianos. “Além do látex, castanha, copaíba, poaia, camaru” (FERREIRA, 2005)
A estação era também o porto de desembarque das mercadorias vindas da Europa, a maioria destinada à Casa Suarez, em Cachuela Esperanza, sede dos seringais do rio Beni.
“Nos dias da chegada dos trens, Vila Murtinho regurgitava de gente. Bolivianos e brasileiros confraternizavam-se nesse dia em cervejadas homéricas e nos jogos de pôquer. Por vezes essas reuniões degeneravam-se em sérios conflitos. Por isso o Governo do Mato Grosso nomeou o delegado da localidade o reformado capitão Paz, para pôr fim às badernas.” (FERREIRA, 2005)
Hoje a Vila Murtinho continua sendo um ponto histórico e turístico de Rondônia, com artefatos de museus a céu aberto em em degradação, as ruínas da estação foram abandonadas. Da mesma forma, o prédio histórico da Igreja Gótica de Santa Terezinha. Restaram uma estação da ferrovia abandonada, algumas casas antigas com sua estrutura comprometida, uma caixa-d’água de 100 anos e alguns galpões.