Após a Delta, teremos a Epsilon? Dalcolmo analisa mutações
Sabemos que vírus são microrganismos centenas de vezes menores que bactérias, que 80% deles infectam animais antes de humanos e que são mutantes por sua própria natureza. Essencialmente um pequeno pedaço de material genético com 400 a 900 genes, encapsulado em concha proteica denominada capsídeo.
Vírus são negados como seres vivos por muitos cientistas, uma vez que não possuem capacidade metabólica — precisam invadir a célula viva de um hospedeiro para ganhar energia e se reproduzir.
Existem, ademais dos vírus influenza dos gêneros A, B, C e D (sendo o A o grande causador de epidemias), quatro grandes grupos de vírus. Os retrovírus, que incluem sarampo, gripe, febre amarela e o HIV, não têm DNA, apenas duas fitas de cópias de RNA. Os filovírus, que incluem o ebola e as febres hemorrágicas, contêm apenas um filamento de RNA envolto em membrana. Ainda que esteja demonstrado que têm seus reservatórios em animais, como os morcegos, guardam seus mistérios. Nos flavivírus, cujo nome vem da palavra latina para coloração amarela, estão a dengue, febre do Nilo, Encefalite japonesa B e zika. E, finalmente, os coronavírus, cujo nome deriva do formato de sua cápsula em coroa composta pelas projeções da proteína espícula (spike).
Descobertos em meados da década de 1960, os coronavírus foram os causadores das epidemias de SARS (síndrome respiratória aguda grave) no ano de 2003 e da MERS (síndrome respiratória do oriente médio) em 2012. Como se espera das epidemias de vírus respiratórios agudos, essas desapareceram, ao contrário da endemicidade legada pela presente pandemia, visto a sua dispersão universal alcançada.
Dentre as mutações ocorridas no Sars-Cov-2 original, desde a cepa Wuhan, quatro são consideradas “de preocupação”. Para não estigmatizar a origem da sua mutação, são denominadas por letras gregas: Alfa, Beta, Gama e Delta.
Conhecendo a imensa capacidade de transmissão da denominada cepa Delta, várias vezes superior à original, e considerando o risco real que se torne dominante, inclusive no Brasil, uma questão se coloca. À luz da baixa cobertura vacinal completa no mundo, de par com a desigualdade de acesso aos imunizantes, precisaremos denominar uma futura mutação, seguindo o alfabeto grego? Teremos novas ondas, de morbimortalidade atenuada? Ou será como na Gripe Espanhola, que atingiu todo o planeta no início do século XX, em que a segunda onda foi mais letal do que primeira?
Em meio a tantas angústias do mundo real, sobretudo quanto à efetividade conferida pelas vacinas ora disponíveis, nos vemos entre percalços, surpresas, descobertas e decepções durante esse já longo período pandêmico. Mas não pensamos que chegaríamos a este ponto: ter que que avaliar o impacto que pessoas não vacinadas, por qualquer razão ou convicção obscurantista, podem causar a outros.