Polícia

Rondônia – Imagens mostram ação de policiais antes e depois de atirar em jovem: ‘Eles tinham direito de prender meu filho, mas não de matar’

“Socorro mãe”, essa foi a última frase que Roseane Pinto Brito, mãe de Gabriel Victor Brito Pinto, ouviu após o rapaz levar um tiro na frente de casa. O jovem de 20 anos, era monitorado pelo sistema prisional por tornozeleira eletrônica. O tiro atingiu a região do tórax de Gabriel que não resistiu e morreu no hospital. A ação aconteceu na rua da Paz no bairro Floresta, em Porto Velho nesta semana.

Ainda em luto pela morte do filho caçula, Roseane conversou com o g1 nesta quinta-feira (26). Ela lembra que no dia em que o filho levou o tiro, conseguiu ouvir os disparos da arma de fogo.
“Eu estava chegando perto [do portão], eu ouvi a explosão. Nessa hora comecei a gritar: para! para! e vi meu filho lutar pela vida. Ele estava de quatro no chão. Eles [os policiais] tinham o direito de prender meu filho, mas não de matar ele. A gente não cria filho para ser bandido”, disse em prantos.

Parte da ação foi captada por uma câmera de segurança instalada no muro da casa de Gabriel, que dividia o terreno com a casa da mãe. Nas imagens (veja acima) é possível observar que o jovem vai na direção de um carro e se assusta quando policiais armados saem na direção dele.

O pai da vítima, Francisco Nerivaldo Pinto, contou à reportagem que o sinal usado pelos PM’s para Gabriel sair de casa foi uma mensagem no celular do jovem.

“Meu filho estava vestindo um pijama, quando recebeu uma mensagem no celular para ir lá fora. Depois, o que vi nas imagens é que um carro estava parado ali [aponta para rua]. O meu filho exitou em ir até o carro, mas eles ficaram dando luz alta. Ele caminhou até lá. Quando meu filho passou pela porta do passageiro, eles [policiais] abriram [as portas] e saíram. Um deles cercou e pegou o meu filho. Arrastaram ele até o canto do muro, onde a câmera não pega, e espancaram ele”.

Local em que Gabriel foi morto ficou com as marcas de sangue — Foto: g1 Rondônia

Nerivaldo também disse que a nora foi quem avisou que o Gabriel estava sendo espancado. Momento em que ele e a esposa foram ver o que estava acontecendo.

“Quando cheguei perto, ouvi só um disparo. Era um tiro. Olhei, e ele [Gabriel] estava sangrando. Eu falei que ia levar meu filho pro hospital, mas eles não deixaram. Meu filho tentava entrar em casa, mas eles ficavam puxando ele para fora. Meu filho tentava caminhar de quatro, e eles puxavam ele pra fora. Foi quando eu falei que tinha câmera de segurança. Aí eles arrastaram ele como animal pra fora. Nesse momento um dos policiais pegou ele por um braço eu peguei por outro o levei para o Hospital João Paulo II na viatura. Lá no hospital, ele [policial] não quis me ajudar, eu peguei sozinho meu filho pelo braço”, conta.

Gabriel teve uma perfuração na região do tórax e não resistiu. Ele morreu no hospital — Foto: Rede Amazônica/ reprodução

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Militar (PM) questionando se houve abuso de poder e se a ação foi realizada de forma cruel por parte dos agentes, em nota a corporação disse que “após o registro policial, os trabalhos investigativos serão iniciados pelos órgãos públicos competentes, a fim de se chegar ao esclarecimento dos fatos ora registrados. Logo, não cabe à PM-RO comentar a ação policial antes da conclusão dos trabalhos de investigação”. (Confira a nota na íntegra ao final da reportagem).

Boletim de ocorrência
O g1 também teve acesso ao boletim de ocorrência que foi registrado com crimes de recaptura de preso/foragido, tentativa de homicídio tráfico de drogas e porte ilegal de armas.

Conforme o boletim de ocorrência, é descrito que a PM recebeu uma denúncia, por meio de aplicativo de mensagem, que na rua da Paz havia um suspeito, sob monitoramento eletrônico, que estava vendendo drogas.

Diante da denúncia, foi solicitado o apoio da Força Tática e da Equipe do Núcleo de Inteligência (N.I.) do 5º Batalhão da PM. Ao chegar ao local, na viatura descaracterizada da equipe do NI, os policiais tiveram o intuito “de observar e avaliar a possibilidade para uma abordagem”.

Os policiais entraram na rua da Paz e, conforme o registro, avistaram um jovem que parecia suspeito. Ele estava em pé próximo ao final da rua. O jovem ao perceber a aproximação do carro, segundo a PM, achou que tratava-se de algum dependente que queria comprar drogas.

Diante a ação, dois policiais desceram da viatura, se identificaram como policiais militares e deram a voz parada, com o intuito de realizar a abordagem pessoal.

Em primeiro instante Gabriel, conforme o boletim, parou e “fingiu” colaborar com a abordagem, porém quando os policiais tentaram realizar a busca pessoal, ele reagiu e entrou em luta corporal com os dois policiais. No registro policial, é descrito que Gabriel em todo tempo tentava levar a mão na cintura.

Em determinando momento, e após os policiais levarem o suspeito para perto do muro, no final da rua, Gabriel conseguiu se soltar dos policiais e, de acordo com o boletim de ocorrência, sacou da sua cintura uma pistola e tentou apontar a arma na direção do PM, que respondeu em um disparo de arma de fogo na altura do tórax.

Após Gabriel ser baleado, ele tentou correr para um beco, mas foi alcançado pelos policiais. Algumas pessoas, segundo o documento, tentaram levar o suspeito da guarnição. O jovem foi socorrido ao hospital João Paulo II pelos policiais e o pai dele, Francisco Nerivaldo Pinto foi junto na viatura. O suspeito recebeu os cuidados médicos no hospital João Paulo II, onde foi levado para o centro cirúrgico com vida.

Ainda na rua da Paz, consta que a PM fez buscas na casa de Gabriel. No quarto do suspeito eles dizem que localizaram:

duas balanças de precisão,
dois invólucros de substância entorpecentes aparentando ser oxi/crack,
uma contendo entorpecentes aparentando ser oxi/crack,
outros utensílios utilizados para a mercância de drogas.
Ainda próximo ao local, foi encontrada uma motocicleta no nome de Gabriel que a PM disse que “é utilizada para a prática de tráfico de drogas”. Esse veículo foi apreendido e entregue na central de polícia.

O boletim de ocorrência foi registrado na Central de Flagrantes e entregue à autoridade de Polícia Judiciária.

Íntegra da nota da PM-RO
“A Polícia Militar de Rondônia (PMRO) vem a público esclarecer a sociedade rondoniense quanto aos registros audiovisuais que circulam nas redes sociais e imprensa local, de fato ocorrido na madrugada do dia 24 de maio, na região zona sul de Porto Velho-RO, onde observa-se uma ação policial com a condução de um suspeito, pela equipe PM, por tráfico de entorpecente e porte ilegal de arma de fogo, o qual, segundo informações do registro policial, veio a óbito no Hospital João Paulo II após ser socorrido por conta de ter sido atingido por um projétil de arma de fogo, em decorrência de resistência para atentar contra a vida de policial militar quando submetido à abordagem policial.

Todos os fatos foram registrados via boletim de ocorrência pela equipe policial militar que estava atendendo à averiguação de denúncia realizada. Após o registro policial, os trabalhos investigativos serão iniciados pelos órgãos públicos competentes, afim de se chegar ao esclarecimento dos fatos ora registrados. Logo, não cabe à PMRO comentar a ação policial antes da conclusão dos trabalhos de investigação.

A Polícia Militar de Rondônia massifica o seu compromisso perante a sociedade rondoniense em continuar mantendo a ordem pública, e com base nas leis, garantir uma segurança pública eficiente no combate à criminalidade”.

 

Gabriel Victor Brito Pinto — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por g1 RO

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