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Garota desabafa contra Bombeiros nas redes sociais após o pai morrer; corporação se manifesta sobre o episódio

A jovem Lizandra Priscila Gomes, que enterrou esta semana o pai, Antônio Carlos Gomes, de 50 anos, mais conhecido como “Arnoldinho”, usou as redes sociais para fazer um desabafo sobre o que, a seu ver, se tratou de omissão de socorro por parte do Corpo de Bombeiros de Vilhena.

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Segundo a jovem, que falou com a reportagem do FOLHA DO SUL ON LINE, seu pai passou mal, com fortes dores nas costas na madrugada de quarta-feira, 10, e a madrasta ligou para os Bombeiros, porém, foi informada de que tal condução ao hospital deveria ser realizada por meios próprios, uma vez que a vítima estava consciente e caminhando.

Porém, após solicitar um motorista de aplicativo e levar o marido até o Hospital Regional, onde foi medicado para alivio da dor, a esposa se ausentou por alguns minutos para ir ao banheiro, e quando retornou, se deparou com o Arnoldinho no chão, vítima de um infarto.

Apesar de alegar que não deseja prejudicar e nem receber indenização de ninguém, já que nada trará seu pai de volta, Lizandra se disse revoltada com a atitude os militares e dos servidores do Hospital Regional, que mesmo sendo treinados e formados para realizar seus trabalhos, esperaram do paciente um diagnóstico para agirem.

“Meu pai falou onde doía, ele não sabia que dor nas costas poderia ser um infarto, quem tem que saber isso são os Bombeiros e os médicos, que são profissionais, e não as pessoas leigas”, afirmou a jovem.

Lizandra alegou ainda que, independente da forma como a madrasta passou para aos Bombeiros o que o pai sentia, não justifica a negação, pois já passou pela mesma situação anteriormente, quando o irmão também precisou de ajuda e ela mesma detalhou os sintomas, mas nada foi feito e teve que levar o paciente para o hospital por conta própria, mesmo sem ter veículo.

“Não queremos dinheiro e nem prejudicar ninguém, só queremos mais humanidade para que outros filhos não sintam a dor que estou sentido, que antes de chegar aos 30 anos, já não tenho mais pai comigo”, desabafou a Lizandra.

Diante do desabafo da jovem, que afirmou que a morte do pai poderia ter sido evitada se o Corpo de Bombeiros não tivesse “negado socorro”, a reportagem do site procurou o 1? tenente Jonas Ferreira de Sousa, comandante do 1? Subgrupamento de Bombeiros, e este esclareceu a situação com base na lei.

Segundo Jonas, a grande maioria da população ainda não conhece ao certo as obrigações dos Bombeiros e os confundem com médicos, acreditando que eles têm formação para proferir diagnósticos clínicos, porém, a realidade não bem essa.

De acordo com a legislação, um Bombeiro tem a incumbência de atuar na área de resgate de vítimas de situações de risco, assim como em combate a incêndios e apoio em situações de catástrofes naturais.

O atendimento clínico a pacientes é realizado pelo Samu, que é uma equipe médica certificada para realizar o atendimento até mesmo invasivo caso seja necessário.

Como Vilhena não dispõe de equipe do Samu, os militares do Corpo de Bombeiros, que dependendo da situação podem e devem agir com poder de polícia, realizam a condução de quadros clínicos de emergência até o pronto socorro, onde o paciente será diagnosticado e medicado de acordo com as necessidades.

Com esse acumulo de funções, os Bombeiros acabam realizando uma forma de triagem na hora de atender a quadros clínicos para excluir os considerados graves, que são a perda de consciência ou sangramento intenso, dos não urgentes, que são dores crônicas ou mal estar em que a pessoa tem a possibilidade de se dirigir ao hospital por meios próprios sem correr risco de morte.

No caso em questão, o tenente afirmou que a esposa da vítima ligou na central e afirmou que o marido estava com fortes dores na coluna, momento em que o militar que atendeu fez o questionamento de rotina, para saber se a situação da vítima realmente se enquadrava no caso de urgência e emergência.

Como a mulher afirmou que o marido não era acamado e que estava andando normalmente sem ter perdido a consciência em nenhum momento, a urgência foi descartada devido as informações repassadas, que apontaram uma situação de paciente com dores lombares, o que não acarreta risco de morte.

Porém, Jonas afirmou que, apesar do procedimento adotado pelo militar ter sido o exigido, talvez possa ter faltado um pouco mais de questionamento por parte do servidor, a fim de saber da esposa da vítima se de fato as dores eram na coluna ou no peito, pois às vezes nem o paciente sabe ao certo onde dói. No entanto, ressaltou que Bombeiros não são certificados para emitir diagnósticos clínicos.

“Recebemos inúmeras ligações por dia até mesmo de pessoas que marcam consulta e querem que as levemos até as unidades de saúde e isso não é de incumbência dos Bombeiros. Nosso trabalho é voltado a resgate e apoio a equipe médica. Os quadros clínicos, segundo a legislação, são obrigações da parte médica, pois se agirmos com essa autoridade na qual não somos certificados, podemos ter problemas”, afirmou o militar.

No entanto, por uma questão de humanidade, Jonas se comprometeu a reunir os Bombeiros e os instruir, mesmo que não estejam errados em proceder como procederam, a questionarem mais os solicitantes a fim de entenderem melhor o caso antes de instruir que a condução deva ser feita de forma própria, já que o município não dispõe de Samu.

“Algumas pessoas não tem paciência para explicar o que de fato está acontecendo e acreditam que nossas perguntas são desnecessárias, mas temos conhecimento de nossas responsabilidades e sabemos que se agirmos fora do que é nossa obrigação, estamos agindo fora da lei”, concluiu Jonas, que se solidarizou com a dor da família.

Já o médico plantonista que atendeu Antônio Carlos no Hospital Regional, falou sobre o caso através de uma nota encaminhada pela Assessoria de Comunicação da prefeitura.

De acordo com o médico plantonista, o paciente chegou no pronto-socorro do HRV às 05:55h do dia 10, com dor toracolombar e hipertensão arterial. Foi acolhido, atendido e medicado com Tramal, Dipirona e Plasil, além de ser encaminhado para exame de eletrocardiograma.

Às 6h00 apresentou síncope por choque cardiogênico. De pronto foi iniciado o protocolo com medidas de reanimação cardiovascular efetiva, com tentativas que perduraram por 80 minutos, porém sem resposta e constatado óbito às 07:00hs.

Antônio Carlos era praticante de atividades físicas e atuou por muito anos como segurança, sendo sua primeira experiência profissional no ramo, na antiga danceteria Crocodillu’s.

Texto: Leir Freitas

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