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RELATO: ‘Peguei meu namorado na cama com o meu irmão’

“Conheci Pedro* num barzinho próximo à universidade onde estudo, três anos atrás. Antes, nunca havia tido um namorado de verdade, e logo engatamos um relacionamento bem tradicional. Sempre muito carinhoso, vivia falando em filhos e casamento. E eu tinha certeza que, sim, aquele dia chegaria e viveríamos felizes para sempre. Até semana passada. Moro no interior de São Paulo, e nossa cidade já está com o comércio todo aberto. Combinamos então de comer uma pizza e, depois, ele iria para a minha casa, que é muito pertinho da dele. Pouco antes do horário marcado, no entanto, Pedro me ligou dizendo que estava cansado, que acordaria cedo no dia seguinte e desmarcou o encontro. Segui então minha programação sozinha, e pedi a pizza no delivery.

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Na manhã seguinte, decidi fazer uma surpresa e levar o que havia sobrado da pizza para ele comer no café da manhã – coisa que, como eu, sei que ele adora. Fui cedinho e, como tenho uma cópia da chave, entrei sem que fosse notada. Tive então meu primeiro choque: Pedro estava dormindo com outra pessoa. Sorrateiramente, cheguei mais perto. Quase caí para trás quando vi que se tratava de um outro homem. Ele nunca havia me falado que era bissexual, isso nem me passava pela cabeça. Tremendo, fui então até a beira da cama. Aí eu, realmente, quase tive um troço. Quem estava pelado, em cima dele, era Jonas*, meu irmão mais novo, de 18 anos.

Meu corpo ficou inteiro paralisado. Não conseguia me mexer ou emitir som algum. Fiquei de fato em estado de choque. Não sei quanto tempo depois (pode ter sido segundos ou horas) avancei para cima dos dois. Comecei a socá-los repetidamente, dizendo aos berros que queria que os dois desaparecessem, morressem, sucumbissem. Meu namorado e meu irmão acordaram sobressaltados, e apanharam calados, tentando apenas se proteger com os braços. Ao mesmo tempo em que eu pedia uma explicação, sabia que, na verdade, não havia justificativa cabível para aquela situação.

Chorando muito e totalmente desnorteada, saí sem rumo pela rua. Só queria sumir do mundo. Trêmula, bloqueei Pedro das redes sociais, do telefone, de tudo. Sabia que ele tentaria conversar e não queria nem ouvir sua voz.

Cheguei em casa, peguei um calmante da minha mãe, e me tranquei no quarto. Meus pais, que têm uma loja de material de construção, já tinham saído para o trabalho. Só escrevi para uma amiga, que imediatamente me ligou, na tentativa de me acalmar. Mas eu não conseguia falar. Só chorava compulsivamente. Chorava, chorava. Minha mãe, quando chegou, pedia desesperadamente que eu abrisse a porta, mas não a atendi.

Passei a noite acordada pensando em como contaria para os meus pais e como iria desmascarar meu irmão. Fiquei sem ver ninguém até o dia seguinte. À tardinha, logo que meus pais chegaram do trabalho, escutei as vozes do meu irmão e de sua namorada, uma menina tranquila, que ele havia conhecido na igreja, no quarto ao lado. Aí decidi abrir minha porta.

Furiosa, fui até o quintal, onde estavam meus pais, e me postei diante da janela de Jonas. Completamente descontrolada, falei em alto e bom som o que queria que todos soubessem: que ele era um enrustido, falso, traíra. Nem pensei na decepção que meus pais teriam, só queria desmascará-lo. Minha mãe assistiu a tudo calada, mas meu pai, que sempre foi muito machista, começou a gritar comigo e mandou que Jonas saísse do quarto.

Com todos reunidos (eu, meus pais, meu irmão e a namorada dele) contei a história. Jurava que Jonas ia me desmentir, mas não. Em tom de deboche, disse que ele e meu namorado já estavam juntos havia quatro meses, me chamou de chifruda e ainda falou que adorava transar com meu boy. Não o reconheci. Verdade é que a gente nunca teve uma relação harmônica, ele sempre teve ciúmes de mim com os meus pais. Mas não esperava por essa facada.

Ali mesmo, meu pai partiu para cima dele, enquanto minha mãe permanecia atônita e minha cunhada correu de lá aos prantos. Fui então para o meu quarto, e desabei a chorar. Sem falar com ninguém, meu pai saiu de casa; minha mãe foi atrás de mim, tentando me consolar. Com os ânimos um pouco menos exaltados, disse que sempre desconfiou que o filho fosse gay, mas como ele namorava essa menina já havia um ano, não via necessidade de tocar no assunto. Ela só não esperava que Jonas pudesse trair a própria irmã, isso nunca.

Pedro ainda tentou me ligar de um outro número, que foi prontamente bloqueado também. Engraçado é que ele e Jonas mal se falavam, quando se encontravam na minha casa ou em qualquer outro lugar. Meu irmão até falava que não ia muito com a cara dele, dizia que achava ele marrento, antipático. Hoje sei tudo isso era uma tentativa de disfarçar.

 

Soube depois que, nesse mesmo dia, Jonas foi para a casa do Pedro chorar as mágoas. Acho até que está lá até hoje, até porque foi expulso de casa pelo meu pai. Desde então, meu pai só faz encher a cara de bebida e minha mãe passa horas no telefone consolando minha ex-cunhada. Conversei muito com ela também, expliquei que nós duas fomos vítimas, e que não temos que nos culpar por nada.

Sigo perplexa e chocada por tudo o que vivi. Infelizmente, não dá pra ligar um botão do esquecimento e apagar de vez tudo isso da minha cabeça nem do meu coração. Só o tempo mesmo para se encarregar disso. Falar sobre esse assunto ainda me dói na alma. Relembrar a cena então… Sei que um dia tudo isso vai passar dentro. Sou nova ainda, vou me refazer. Mas, para que isso aconteça, preciso estar longe deles e da cidade em que moro. Por isso, resolvi passar um tempo na casa da minha avó, que fica há mais de 300 quilômetros de casa. Meus pais, se quiserem me ver, terão que me visitar aqui. Não pretendo pisar naquela cidade nem tão cedo.”

*Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada

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