Saúde

Programa “Cuidando de Quem Cuida” atende servidores afetados pela covid-19 na Policlínica Oswaldo Cruz

Chama-se “Cuidando de quem cuida” o programado Governo de Rondônia, gerido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que visa dar acolhimento a servidores da Saúde que desde o ano passado trabalham com vítimas da pandemia mundial do novo coronavírus (Sars-CoV-2, a síndrome respiratória aguda grave) em Rondônia. O acolhimento que resulta em acompanhamento de cada situação de esgotamento físico e mental é feito na Policlínica Oswaldo Cruz (POC), segundo a psicóloga Golda Paiva de Carvalho.

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Destinado a fortalecer a saúde mental do trabalhador, o ambulatório na POC tem sua coordenação na sala nº 26 do bloco Cupuaçu. O servidor de unidades de saúde em Rondônia que necessitar desse atendimento, poderá telefonar para a POC: 3216 2214. Ali, o servidor dispõe de atendimentos psicológico e de psiquiatria. “Em nossa área já temos quinze pacientes da capital, entre atendidos e aqueles com consultas marcadas”, disse Golda.

Pacientes do interior do estado são acompanhados online pelo psicólogo Luiz Henriques, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). “No início, o atendimento foi online, depois com lives informativas com temáticas voltadas para saúde mental, foi então que o programa tomou corpo, alcançando o ambulatório, constituindo uma das atividades voltadas para atender o servidor no momento de sofrimento psíquico”, lembrou Golda.

A primeira mobilização com o objetivo de cuidar da chamada “linha de frente” ocorreu em maio passado, envolvendo residentes multiprofissionais de urgência e emergência do Centro de Educação Técnico Profissional na Área de Saúde Rondônia (Cetas), uma das 36 que compõem a Rede de Escolas Técnicas do SUS.

Também participaram integrantes da Coordenação de Saúde Mental, Gerência de Projetos Especiais e Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt), na Sesau, todos eles fornecendo orientações e se mobilizando em busca de apoiar o servidor da Saúde.

Segundo a psicóloga, no atendimento com psiquiatras são avaliadas as condições dos pacientes e prescritas suas medicações. Já o acompanhamento psicoterápico semanal, pelo qual o paciente e psicólogo trabalham juntos para resolver as questões psíquicas que o impedem de exercer o trabalho de forma eficaz.

SAÚDE MENTAL

Uma conversa serve para que o paciente possa expressar seus pensamentos e sentimentos reprimidos. Situações de saúde mental encaminhadas para psiquiatras somam outro tanto de pacientes, e será dessa maneira daqui para a frente, enquanto durarem as inquietudes e dores da covid-19. “Parentes adultos também podem ser acompanhados pelo serviço ambulatorial destinado ao servidor da saúde”, explicou Golda.

Em quase cinco anos de trabalho, ela notou uma crescente necessidade desse trabalho, não apenas no âmbito da saúde, mas na Secretaria de Educação e outras secretarias, a exemplo da preparação do servidor para aposentadoria. Assim, palestras e eventos de saúde do trabalhador vêm sendo constantes no estado. Outros órgãos também se encontram dentro dessa possível extensão do trabalho ambulatorial. “Quando a pandemia começou, percebeu-se que os servidores precisavam ter o seu local de atendimento por acumularem sobrecarga de intenso trabalho”, disse.

Os participantes do programa encontraram colegas angustiados, sobretudo em consequência de lidar com tantas mortes de pessoas. Sucederam-se  perdas familiares e de conhecidos. A própria psicóloga vivenciou esses momentos ao perder três amigos bem próximas e acompanhar o estado grave de outras, internadas em UTI e depois liberadas. “Em família também senti essa sensação: a doença pegou minha sobrinha estudante de medicina, que depois se curou e retornou à Argentina, onde estuda; um sobrinho soldado da Base Aérea; e outra sobrinha engenheira, todos felizmente recuperados”, relatou.

Golda acredita que a rotina na saúde pública impõe trabalhar o período pós-covid, ou seja, o estudo do que fazer com a realidade de quem sofreu com a doença, sobreviveu e precisa seguir trabalhando. “É o aspecto da continuidade do acompanhamento de todos, pois permanecem as sequelas psíquicas, cognitivas e físicas”, assinalou.

Conforme constatou o programa, alguns servidores apresentaram dificuldade de memória, fadiga física e sintomas semelhantes aos transtornos de ansiedade e de síndrome do pânico; outros tiveram sequelas físicas que necessita de acompanhamento de outros profissionais da saúde, entre os quais, o fisioterapeuta. “Eu acredito que os que testam positivo para a covid estão sujeitos ao abalo psicológico quanto ao estado clínico, a literatura médica trata daquilo que se denomina covid longo, cuja duração se prolonga até por seis meses”, disse.

Segundo Golda, a expectativa das pessoas provoca-lhes calafrios em decorrência da circulação de novas cepas do coronavírus, entre outros fatores. Justamente aí, o ambiente entre os que cuidam e hoje também são cuidados deve melhorar. Até porque, a doença ainda está sendo diagnosticada no mundo e as reinfecções são tema de controvérsia.

Segundo o Ministério da Saúde, até 5 de abril deste ano, oito brasileiros tiveram confirmações de um segundo diagnóstico de covid-19. Já a plataforma Reinfection Tracker tem 69 casos confirmados no mundo, dois resultantes em morte. Foram os casos de um homem israelense, de 74 anos, e de uma mulher holandesa. Segundo a pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da covid-19, realizada pela Fiocruz em todo o território nacional, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores.

O questionário da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz) contemplou, além de médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas e farmacêuticos, todas as categorias profissionais da área da Saúde, inclusive administrador hospitalar, engenheiro (segurança do trabalho, sanitarista) e um expressivo número de residentes e graduandos da área da saúde, em mais de dois mil municípios.

Os dados revelam que a Força de Trabalho durante a pandemia é majoritariamente feminina (77,6%). A maior parte da equipe é formada por enfermeiros (58,8%), seguida pelos médicos (22,6%), fisioterapeutas (5,7%), odontólogos (5,4%) e farmacêuticos (1,6%), com as demais profissões correspondendo a 5,7%. Importante registrar que cerca de 25% deles foram infectados pela covid-19. A faixa etária relativa aos profissionais da linha de frente mais comum é entre 36 e 50 anos (44%). Trabalhadores jovens, de até 35 anos (38,4%), também possuem grande representatividade na assistência. No quesito cor ou raça, 57,7% declararam-se brancos, 33,9% pardos e 6% pretos. O levantamento indica, ainda, que 34,5% dos profissionais trabalham em hospitais públicos, 25,7% na atenção primária e 11,2% atuam nos hospitais privados. A maior parte está concentrada nas capitais e regiões metropolitanas (60%).

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