Ambiente familiar pode aumentar abuso sexual infantil em até 10 vezes
Crianças cujos pais são dependentes químicos, sofrem violência doméstica ou têm algum tipo de doença mental têm 10 vezes mais chances de serem vítimas de abuso sexual. Essa é a conclusão de um novo estudo conduzido pela Universidade de Toronto, no Canadá, publicado na segunda-feira (24) no periódico Social Work.
A pesquisa considerou os relatos de 52 mil pessoas (já adultas) coletados em dois estudos anteriores realizados em 2010 e 2012, e levou em conta questões de raça, gênero e idade dos participantes. “As descobertas de ambas as pesquisas foram notavelmente semelhantes, sugerindo que as associações são particularmente robustas e dignas de uma investigação mais aprofundada”, disse Senyo Agbeyaka, coautor do estudo, em comunicado.
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De acordo com os cientistas, entre os adultos que não foram expostos a nenhum dos três cenários apresentados, apenas cerca de 1% dos homens e 2% das mulheres foram abusados sexualmente durante a infância. Para aqueles expostos a uma dessas adversidades infantis, a prevalência de abuso sexual infantil quase triplicou: 2,7% para homens e 6,4% para mulheres.
Já a exposição a dois dos fatores de risco foi associada a um aumento adicional na prevalência de abuso sexual durante a infância, 5,5% para homens e 15,5% para mulheres. Por fim, aqueles que vieram de lares caóticos, onde os três principais fatores de risco estavam presentes, a prevalência de abuso sexual na infância foi de 11,6% para homens e 26,4% para mulheres.
“A descoberta de uma diferença de mais de dez vezes na prevalência de abuso sexual daqueles expostos a [essas] três adversidades na infância para aqueles sem nenhuma foi bastante chocante”, observou Agbeyaka. “É raro ver um efeito tão grande e tão consistente entre homens e mulheres.”
Os pesquisadores ressaltam que as duas principais limitações do estudo foram o uso de autorrelatos retrospectivos e a falta de informações sobre o momento exato da infância em que ocorreram. Além disso, destacam que os resultados indicam apenas correlação e não podem ser interpretados como causais.
Ainda assim, os cientistas acreditam que suas descobertas têm implicações importantes para melhorar o atendimento de crianças por assistentes sociais, profissionais da saúde e professores. “Não devemos subestimar o impacto negativo da violência parental contra o parceiro, doença mental e dependência de substâncias sobre as crianças da casa”, explicou Esme Fuller-Thomson, líder da pesquisa. “As crianças são muito vulneráveis ao abuso sexual em famílias onde os pais estão lutando com várias dessas adversidades.”