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Diretor transforma escola estadual e pais encaram fila de 7 dias para conseguir vaga

Dezenas de pais passaram a virada do ano em busca de uma vaga para seus filhos na Escola Estadual José Geraldo de Lima. Foram quase 7 dias de espera na calçada da Rua Antônio Mariano, no Jardim Ipanema, na Zona Sul de São Paulo, na tentativa de conseguir uma transferência para a instituição. Segundo eles, o motivo do empenho é a qualidade do ensino e a dedicação de seu diretor, Wagner Neves.

“O meu diferencial é que eu sou apaixonado por isso, sem demagogia, eu gosto do que faço, toda aula que eu entro a palavrinha que eu coloco é gostar, você tem que gostar do que está fazendo e outra, eu vou me aperfeiçoando”, disse Wagner em entrevista ao G1.

Funcionário Público há 23 anos, Wagner começou como professor de português em uma escola estadual na Zona Sul de São Paulo. Tempos depois, se tornou coordenador, vice-diretor, e, por fim diretor.

Em 2012, quando o governo lançou a inscrição para o Programa de Ensino Integra (Escolas que contam com jornada de estudos de até nove horas e meia), Wagner prestou o concurso, passou e, em 2014, assumiu o comando da Escola Estadual José Geraldo de Lima. À época, a realidade era bem diferente da fila formada no dia 28 de dezembro.
“A própria comunidade não gostava dessa escola, queriam fechar, era uma luta para fechar e os próprios alunos que estavam dentro não queriam ficar aqui”, relembra Wagner.

O diretor diz que percebeu a urgência na mudança quando os próprios alunos foram reclamar das condições da instituição.

“Tinham alunos fora da idade, fora de série e que faziam coisas erradas. A gente precisava tomar uma atitude porque tinham crianças que vinham aqui na minha sala pedir para estudar”, conta ele.

A partir daí, Wagner começou a envolver a comunidade, os pais e os alunos com os assuntos da escola. “A comunidade começou a entender que a escola também é deles”, comenta.

O primeiro passo na reorganização da Escola Estadual José Geraldo de Lima foi a implantação do uniforme, que não é fornecido pelo governo.

“Nós fizemos uma reunião muito grande, e eu disse: ‘a partir de 2015, eu estou avisando vocês, a partir do ano que vem, é camiseta e uniforme, eu quero identificação’, vocês aceitam, pais?’ Então a maioria fez uma ata aceitando a camiseta, o próprio pai de aluno se prontificou a fazer as roupas’, conta Wagner.

“O uniforme é uma segurança para todo mundo, e os pais sabem disso. Eu já fui atender alunos em terminais que me ligavam e falavam, ‘olha, tem um aluno seu aqui'”, completa o diretor.

Wagner ainda esclareceu que há três anos pais formam filas no período de matrícula na porta da escola. Segundo o diretor, em 2020, trezentos alunos ficaram na fila de espera, entretanto, só foram abertas vagas para uma turma do 6º ano.

A escola possui 25 professores e 490 alunos. Wagner conta que como são poucos os estudantes que querem deixar a instituição, a rotatividade da lista é baixa e o esforço dos pais de dormir em barracas na porta da escola, muitas vezes, não é recompensado.

Pais esperam em fila para matricular filhos em escola da Zona Sul. — Foto: Reprodução/TV Globo

Além disso, de acordo com Wagner, as poucas vagas que abrem são destinadas a pessoas que moram próximo à escola. Ele conta que antes dele desenvolver o projeto pedagógico e integrar a comunidade escolar, existiam muitas vagas disponíveis, mas que foram ocupadas ao longo dos últimos anos.

“Tem criança aqui que 4h30 da manhã está de pé, 4h30/4h45 está vindo de Parelheiros, Vargem Grande, Santo Amaro, lá depois do Capão Redondo, eles querem aqui, mas isso são alunos antigos”, diz Wagner.

O diretor revela que faz questão de receber os alunos às 7h da manhã e de participar das atividades oferecidas aos estudantes. Wagner é presente até mesmo nos espetáculos de dança da escola, entre eles, o musical ‘A Bela e a Fera’.

“Eu me preparei, fui a fazer a valsa, porque a apresentação era eu de Fera e a vice-diretora de Bela. Você tinha que ver quando a gente apareceu de ‘Bela e a Fera’ a escola explodiu, porque os pais também estão aqui junto. Eu participo. Eu vou na dança com eles, lá embaixo tem o futsal, o vôlei… eu me quebro, mas eu vou porque eu tenho que estar junto com eles”, conta Wagner aos risos.

O diretor Wagner Neves e a vice-diretora da instituição em uma das apresentações de dança da escola. — Foto: Arquivo pessoal

Atitude vale nota
Na tentativa de envolver cada vez a comunidade com a escola, o diretor desenvolveu um projeto no qual atitudes positivas rendem pontos e até premiação para os alunos da instituição.

Wagner conta que os alunos que chegam atrasados ou desrespeitam alguma regra da escola perdem um ponto na média do bimestre, já aqueles que tiveram um bom desempenho, ou fizeram uma boa ação durante o ano, são premiados em uma festa.

“Todo final de ano tem um evento. Você recebe um convite, mas você não sabe o que é. Alguns alunos recebem essa carta e no dia eles ficam sabendo o que é, eles e os pais. Quando chegam lá foi o melhor aluno de matemática de tal e tal série, foi o melhor aluno que fez uma leitura de redação, que fez um ato solidário ou o pai que ajudou a carpir, então, a gente premia esses pais destaques do ano”, conta Wagner.

Além disso, o diretor destaca que o acompanhamento dos alunos também é feito com cuidado.

“Eu tenho aqui na reunião de pais, posso dizer, quase 100% de presença e é uma reunião participativa, todos os professores, toda a gestão, pai e aluno. Vai a foto de aluno, as notas dele e discute todo mundo junto como é que ele está, aluno por aluno, é uma hora e meia com cada sala” afirma.

Diretor analisa o desempenho acadêmico dos alunos individualmente com a presença de pais e professores. — Foto: Arquivo Pessoal

Transformar
Ex-aluno de escola pública, Wagner revela que seu objetivo é entregar aos alunos uma realidade diferente da que encontrou durante sua vida estudantil. “Eu sempre busquei ser aquilo que eu nunca tive”, diz Wagner

“Eu tenho que tomar cuidado com o que eu faço porque eu posso alterar vidas de uma maneira que pode ser radical. Então, eu trabalho com o projeto de vida dessa ‘molecada’, existem sonhos aqui, então, eu vou trabalhar com o sonho deles”, afirma o diretor.

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