Maior águia do Brasil é avistada em Parque
Maior águia do país, que está na lista de animais ameaçados de extinção, a harpia, também conhecida como gavião-real, foi avistada pela primeira vez no Parque Sesc Serra Azul, em Rosário Oeste, em fevereiro. A perda de habitat pelo desmatamento, caça e captura para criação em cativeiro são alguns dos fatores que colocam a ave na categoria vulnerável no país. A presença dela no parque, que faz parte do polo socioambiental Sesc Pantanal, é um indicador que o predador é capaz de se sustentar na região.
Com 5 mil hectares, a área onde a ave foi avistada está na transição do Cerrado com a Amazônia e é cercada por fazendas de gado e áreas de agricultura extensiva. De acordo com o engenheiro florestal do Sesc Pantanal, Henrique Sverzut, o registro feito no dia 26 de fevereiro é inédito. “Ele estava sozinho e ainda vamos acompanhar se está usando a área para transição ou se irá permanecer. Nosso desejo é que ele prospere, encontre sua parceira e procrie. A área onde hoje é o Parque Sesc Serra Azul também já foi fazenda de gado, serviu de plantação de arroz e até garimpo. Mas, hoje, a área em processo de regeneração, tem suas ações voltadas ao ecoturismo e é local seguro para todo tipo de vida animal, cumprindo a missão do Sesc Pantanal de conservar a biodiversidade”, diz ele.
Pesquisador do Museu Nacional/UFRJ, Luiz Flamarion Oliveira destaca a relevância da presença do gavião-real na área do Sesc Pantanal, que foi destinada à conservação pelo Sesc Pantanal há apenas 9 anos. “A aparição da harpia é um evento muito importante. Isso mostra a qualidade da área. Acho que o mundo no Serra Azul está completo. Desde os voadores aos pintados terrestres”, diz ele, se referindo a onça-pintada, rara no Cerrado, e que também já foi vista algumas vezes no parque.
Conforme o “Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção’, as aves são o segundo grupo de vertebrados mais diversos no Brasil, perdendo apenas para os peixes, com um total de 1.903 espécies reconhecidas até 2014. São encontradas em todos os biomas brasileiros e no ambiente marinho-costeiro, sendo a Amazônia o bioma com maior número de espécies, que inclui a harpia.
Vulnerabilidade
A harpia foi categorizada como vulnerável pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, criada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e como “criticamente em perigo” em quase todas as listas estaduais de espécies ameaçadas existentes no Brasil.
Uma espécie é considerada vulnerável quando as melhores evidências disponíveis indicam que enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro bem próximo, a menos que as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e reprodução melhorem. A vulnerabilidade é causada principalmente por perda ou destruição de habitat.
Ameaças
A projeção do status de conservação da harpia não é positivo até 2057, considerando o tempo de três gerações da espécie. Muitos indivíduos estão sendo removidos da natureza pela caça, captura para criação em cativeiro, derrubada de árvores com ninhos ativos pelo corte seletivo na exploração madeireira e impactos diretos de estradas, hidroelétricas, redes de transmissão e distribuição de energia.
A baixa densidade populacional e taxa reprodutiva agravam o quadro de ameaça da espécie em toda sua distribuição. As florestas tropicais das Américas têm sido drasticamente reduzidas nas últimas décadas, principalmente no Brasil. O acúmulo de desmatamento nos últimos 40 anos na Amazônia brasileira é de aproximadamente 20%, concentrado principalmente no sul da Amazônia.
Na Mata Atlântica, mais de 85% da floresta original foi perdida, a maior parte nas últimas décadas do século XX. As florestas do centro do Brasil também estão sendo drasticamente desmatadas. Este cenário de desmatamento das florestas brasileiras representa uma grande ameaça para a harpia. Vários registros da espécie na Amazônia foram em condições de risco. No Cerrado e Pantanal alguns registros de indivíduos também foram realizados em situação de ameaça, caça e perseguição.
Diante deste cenário, o Livro Vermelho indica ações de conservação necessárias para a conservação da ave. Essas incluem a manutenção de áreas naturais pouco alteradas, a proteção das árvores utilizadas para nidificação e da floresta no entorno dos ninhos, além do combate à caça, perseguição e ao tráfico da espécie.
Gavião-real ou harpia
A harpia possui longo tempo de vida e baixa taxa reprodutiva. O tempo geracional da espécie é estimado em 18,5 anos. Coloca um ou dois ovos, mas apenas um filhote é criado. Os adultos se reproduzem a cada três anos.
No Brasil, atualmente os registros são mais comuns na Amazônia. Na Mata Atlântica a situação da espécie é crítica e os registros de indivíduos são raros. A maioria dos registros recentes foram realizados no estado do Espírito Santo e sul da Bahia. Entretanto, um registro foi realizado em 2015, no Parque Estadual do Turvo, no Rio Grande do Sul. Registros recentes de nidificação (construção de ninhos) foram realizados na Reserva Natural Vale, no Espírito Santo, RPPN Estação Veracel e PARNA do Pau-Brasil, na Bahia (dados do Programa de Conservação do Gavião-Real).
Na Cerrado e Pantanal também ocorreram alguns registros da espécie: dois registros de nidificação foram realizados no entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena e um no entorno da RPPN SESC Pantanal, no Pantanal de Poconé, unidade que também faz parte do polo socioambiental do Sesc.
Com até 105 centímetros de comprimento, pesando entre 4 (fêmea) e 9 (macho) quilos, envergadura que chega a 2 metros e unhas medindo até 7 centímetros, a harpia consegue capturar presas com mais de 6 quilos, como preguiças, bugios, macacos-prego, gambás, irara, porco-espinho, tamanduás, quati jupará e também répteis, incluindo iguanas. Alguns mamíferos terrestres capturados incluem cotias e veados jovens. Aves também foram registradas, incluindo araras, tucanos, papagaios e mutuns.