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Médico receita chá de açafrão e cebola com óleo de copaíba para tratar coronavírus no Acre

Uma situação no mínimo inusitada e delicada está acontecendo no município do Jordão, uma das localidades mais remotas do Acre, distante cerca de 450 quilômetros da capital Rio Branco, onde o médico da cidade, César Pedigone, recusa-se a prescrever medicamentos para a Covid-19 e receita chás e óleo de copaíba, mesmo para os pacientes sintomáticos da chamada primeira e segunda fase da doença.

A denúncia chegou até a Folha do Acre na quinta-feira (11) quando pacientes e uma pessoa da enfermagem da cidade enviaram cópias da receita e áudios pedindo ajuda.

“Ele se recusa a prescrever medicação. Ele é naturalista, só receita chá, acontece que essa doença, a Covid-19, não é qualquer doença. É preciso entrar com medicação nos primeiros sintomas ou o paciente vai agravar e morrer. Nem saco para os defuntos a cidade vai ter. Meu Deus, isso é uma loucura e precisamos que alguém faça algo pelo povo do Jordão”, diz a profissional da saúde que chorou durante a entrevista.

Uma das técnicas de enfermagem da cidade, que não quer ter o nome revelado, foi contaminada e foi uma das pacientes de César Pedigone a solicitar que o médico seguisse o protocolo e receitasse os remédios adotados pelo protocolo médico vigente para o caso da doença, mas não obteve sucesso. Na conversa via aplicativo que a reportagem teve acesso a profissional insiste que o médico receite os remédios e ele disse que irá passar chás porque não há remédio contra o coronavírus.

“É de um absurdo sem tamanho, pois as organizações de saúde têm protocolos que são usados pelos médicos na fase 1 e que evitam que o vírus se multiplique e leve ao agravamento do caso”, diz a servidora da saúde.

Em um dos casos, receita anexa nesta matéria, o médico receita uma mistura de chá de açafrão com pimenta do reino, cascas de pau roxo, copaíba e raiz de majeroba, para combater a Covid-19. Na mesma receita o médico receita uma mistura de cebola com óleo de copaíba e depois acrescenta mais uma mistura naturalista sem comprovação científica, que é uma batida feita com meia cebola com oléo de copaíba para tomar durante 7 dias, sendo que o paciente é orientado a tomar a mistura de 12 em 12 horas.

“Ele é um médico que se declara naturalista e respeitamos isso, desde que isso não interfira na sua profissão e no juramento que fez de salvar vidas. Se essa doença se espalha aqui e pacientes se agravam irão morrer porque não temos estrutura alguma para salvá-los”, diz uma fonte.

A reportagem entrou em contato com o secretário de Saúde do Jordão, Antônio Carneiro, que afirmou que já tinha conhecimento prévio da denúncia, embora não tenha recebido oficialmente queixas contra o médico e que já o tirou da linha de frente ao enfrentamento da pandemia.

“Chegou até nós esse caso, ouvi falar e o afastamos. Ele está atendendo, mas não no enfrentamento a Covid-19. Colocamos outro profissional”, diz.

A reportagem tentou contato com a presidente do Conselho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC), Leuda Dávalos, por aplicativo de mensagem, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta. O espaço segue aberto para o CRM se manifestar sobre o caso.

A reportagem entrou em contato com o médico César Pedigone que afirma que o protocolo adotado pela Sesacre não tem nenhuma comprovação científica de qualidade.

“Nada comprova que a azitromicima, nem mesmo a ivermectina e nem a prednisolona são eficazes, em alguns casos piorou a situação dos pacientes. Eu não deixo de dar medicamentos, mas sigo o protocolo do Hospital Sírio-Libanês, da Universidade de Campinas e Unidade Estadual Paulista”, diz.

O médico diz que segue um protocolo de suporte. “Quando se tem uma sindrome gripal por vírus o tratamento principal é hidratação, paracetamol ou dipirona e medidas para a pessoa ter uma boa imunidade. Isso está sendo adotado em grandes centros. Preescrevo chás que tem potencial antinflamatório, para auxiliar nas vias áreas. A água quente do chá ajuda soltar o catarro. Isso que faço, protocolo de suporte, e alguns chás para auxiliar o tratamento. Não garanto que o meu protocolo seja melhor, mas garanto que o protocolo usado aqui no Acre não tem valor científico. Só passo azitromicina quando tem uma infecção por bactéria”, diz.

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