Brasil

Morre aos 84 anos, Leo Canhoto, pioneiro da eletrificação pop da música sertaneja

♪ OBITUÁRIO – Solos de guitarra em shows de cantores como Gusttavo Lima e Luan Santana soam perfeitamente naturais aos ouvidos do público consumidor do pop sertanejo.

Nem sempre foi assim. Em 1969, a então novata dupla Leo Canhoto & Robertinho provocou polêmica e também encantamento no mundo caipira ao inserir guitarra na música sertaneja em processo de eletrificação pop que abrangeu também o visual da dupla.

Foto: Facebook Leo Canhoto & Dino Santos

Óculos escuros, cabelo à moda de Roberto Carlos e indumentária de estilo cowboy hippie ajudaram Leo Canhoto & Robertinho a fazer uma revolução pop no universo sertanejo, com a qual contribuíram duplas projetadas na sequência, como Chitãozinho & Xororó e Milionário & José Rico.

Robertinho era o nome artístico escolhido pelo goiano José Simão Alves para evidenciar a influência de Roberto Carlos. Já Leo Canhoto era Leonildo Sachi (27 de abril de 1936 – 25 de julho de 2020), paulista nascido em Anhumas (SP) e criado em Sertanópolis (PR).

Confirmada na página oficial do facebook da dupla Leo Canhoto & Dino Santos, cantor com quem o artista paulista fazia dupla, a morte de Leo Canhoto – ocorrida na madrugada de sábado, 25 de julho, em hospital de São Paulo, por causa de parada cardíaca decorrente de quadro de pneumonia – faz lembrar o pioneirismo da dupla formada pelo cantor em 1969 com Robertinho.

Leo Canhoto morre aos 84 anos, dois meses após lançar o álbum Divino Pai eterno em dupla com Dino Santos.

Violonista autodidata, Leo adotou o sobrenome artístico de Canhoto por ser de fato canhoto e tocar violão com a mão esquerda, com as cordas invertidas.

Reconhecido primeiramente como compositor no universo sertanejo, onde teve a partir de 1961 músicas gravadas por duplas como Pedro Bento & Zé da Estrada, Tião Carreiro & Pardinho, Vieira & Vieirinha (da qual foi empresário) e Zico & Zeca, o cantor se apresentou em circos e formou duplas efêmeras.

Leo Canhoto, em dupla com Robertinho (à direita), influenciou nomes como Chitãozinho & Xororó — Foto: Divulgação

Contudo, foi somente em dupla com Robertinho que Leo Canhoto marcou época na música sertaneja ao longo dos anos 1970 em trajetória iniciada em 1969.

Em sintonia com o visual moderno, construído pela dupla em linha jeca pop que embutia influências do universo da música country dos EUA e do rock massificado no Brasil pela Jovem Guarda, Leo Canhoto & Robertinho procuraram fazer um som mais moderno com repertório por vezes sanguinolento que incorporava teatralizações do mundo do faroeste norte-americano, sem perder o elo pop com o iê-iê-iê da Jovem Guarda.

A fórmula de Leo Canhoto & Robertinho fez sucesso dentro das fronteiras do imenso universo interiorano do Brasil sem chegar às grandes capitais – proeza que caberia à dupla Chitãozinho & Xororó.

Com sucessos autorais como Apartamento 37 (1969), Jack, o matador (1969), O homem mau (1969), Meu velho pai (1970), Mão de ferro (1977) e O último julgamento (1983), a dupla Leo Canhoto & Robertinho se desfez em 1983, deixando álbuns como Rock bravo chegou para matar (1970) e Amazonas kid (1973). Mas voltou à cena em retornos esporádicos, embora a dupla atual de Leo Canhoto fosse com Dino Santos.

De todo modo, foi em dupla com Robertinho que Leo Canhoto deixou o nome na história da música sertaneja, inclusive pela simpatia por governos brasileiros de direita, como o do presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 – 1985).

Na época do lema “Brasil, ame-o ou deixe-ou”, Leo Canhotto exaltou o amor pela pátria com a composição de músicas de tom ufanista, na contramão da revolução antinacionalista que fizera na música sertaneja ao lado de Robertinho.

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