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Conheça Majur: cacique transsexual de aldeia mato-grossense

Aos 12 anos, Majur começou a se sentir diferente. Gostava de brincar de bonecas, ficar perto de meninas e sentia também uma certa atração por meninos. Entendendo-se como uma mulher transsexual, 18 anos depois começou o tratamento para sua redesignação sexual e ainda assumiu o posto de cacique na Aldeia Apido Paru da Terra Indígena Tadarimana, localizada em Rondonópolis (a 218 km de Cuiabá), após o pai adoecer.

Apido Paru é uma aldeia indígena nova em Rondonópolis, com cerca de 60 pessoas vivendo nela. São apenas quatro anos de existência – energia elétrica chegou apenas em 2021 – e foi criada pelos pais de Majur, que sempre os auxiliou. A mãe fala bem o português brasileiro, mas o pai fala apenas sua língua materna então em diversas situações Majur precisou ser sua intérprete.

O pai da recém-cacique adoeceu cerca de um mês atrás e precisou ser levado a um hospital para melhorar. Ele ficou mal por cerca de cinco dias e, neste período de tempo, Majur assumiu as responsabilidades de cacique e permaneceu no posto após o pai receber alta. Por recomendação médica, o patriarca precisou se afastar para evitar possíveis estresses.

Geralmente os caciques são escolhidos por votação a cada dois anos, sempre passando por uma avaliação bienal para checar se está cumprindo com suas obrigações. Essa forma de escolha é mais comum em aldeias maiores, explica Majur em entrevista ao Olhar Conceito. No seu caso, assumiu o posto de cacique sem precisar de uma eleição e a decisão foi bem recebida pelo seu povo.

Majur já era uma liderança da aldeia há muito mais tempo. Não de forma oficial, é claro, mas assim que se tornou agente indígena de saúde, prestando serviços de assistência básica em sua comunidade, passou a lidar com inúmeras questões que eram necessárias. Sempre a procuravam para qualquer que fosse o problema e ela também era ativa nas decisões feitas pelo seu pai quando ainda era cacique.

A paixão e admiração pela área da saúde surgiu aos 6 anos de idade. À época, Majur desenvolveu tuberculose e foi tratada por um ano. Depois do tratamento, precisou fazer uma cirurgia para remover nódulos que ficam abaixo da garganta. No fim, Majur foi curada e voltou para casa com admiração pelos enfermeiros e médicos que cuidaram dela. Hoje Majur sonha em fazer medicina.

“A vida não foi tão generosa – para não dizer cruel – comigo”, desabafa. Por volta dos 12 anos, Majur estudou fora da aldeia e sua família não tinha condições financeiras muito boas. A mãe fazia alguns enfeites, vendia na cidade e trazia comida para casa. Assim, Majur só foi se formar em 2017, aos 26 anos, por às vezes desistir no meio do ano devido a algumas exigências feitas pelas escolas, como compra de materiais e “estar bem vestida”. “Isso fez com que eu seguisse mais forte nessa luta”, explica.

 

Ao longo dos seus 30 anos, Majur diz nunca ter sido vítima de homotransfobia considerada grave, apenas episódios leves que, sendo bem sincera, acredita não terem marcado sua vida. O que foi realmente significativo para ela foi poder contar com uma mulher transsexual que a auxiliou durante todo o seu processo de descoberta

 

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