Entenda porque parte da população passa fome mesmo com R$ 600 do Auxílio Brasil
Agravada pela forte crise mundial em decorrência da pandemia da Covid-19 e da Guerra entre Rússia e Ucrânia, a insegurança alimentar é um dos pontos chaves de preocupação em relação à população brasileira na retomada da economia.
Um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN) concluiu que três em cada dez famílias brasileiras enfrentam problemas para comprar alimentos, ou seja, sofrem insegurança alimentar classificada como grave ou moderada. Dados apontam que 15,5% das famílias brasileiras enfrentam a insegurança alimentar grave, enquanto 15,2%, a moderada.
Ainda de acordo com o estudo, ao todo, 125,2 milhões de pessoas precisam conviver com a incerteza sobre a disponibilidade de alimentos no futuro, ou seja, em situação que é classificada como insegurança alimentar leve.
Durante o período de fechamento do comércio e isolamento social forçado ocorrido na pandemia, o Governo Federal criou e disponibilizou o chamado Auxílio Emergencial, que viria a ser chamado Auxílio Brasil. A medida surgiu para tentar amenizar os prejuízos econômicos em virtude da crise sanitária, principalmente na camada mais vulnerável da população.
O programa de distribuição de renda foi idealizado com intuito de ajudar, sobretudo, os pequenos comerciantes, que foram impedidos de trabalhar e pessoas de baixa renda, em situação de vulnerabilidade social. No entanto, apesar da iniciativa e mesmo com o valor máximo de R$ 600, o Auxílio Brasil não ‘curou’ o problema da fome no país.
Isso acontece porque, mesmo com os R$ 600 disponíveis para os gastos mensais, esse dinheiro é utilizado não só para a alimentação, mas também para gastos como aluguel, conta de energia, água, telefone, gás, entre outros.
População endividada
Outro fator que tem grande impacto no bolso do brasileiro são as parcelas fixas mensais que fazem parte da vida do cidadão. Seja devido a compra de um eletrodoméstico, outros itens para a casa, ou até da realização de um empréstimo pessoal, muitas vezes o beneficiado compromete parte dos R$ 600 do auxílio, que acabam sendo utilizados para pagar dívidas e parcelas.
Divulgada em agosto de 2022, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo (CNC) aponta que o número de famílias endividadas no Brasil atingiu o patamar de 79% dos lares. Ainda segundo os dados, 29,6% do total de famílias atrasaram o pagamento de contas no mesmo período.
Pandemia agrava cenário
Diante de um cenário que já não era o ideal em relação à população de baixa renda, a pandemia da Covid-19 agravou ainda mais a insegurança alimentar e também as dívidas da população.
O fenômeno acontece em decorrência da crise econômica gerada em todo o planeta durante o período. Com os preços inflacionados e a renda cada vez menor, o poder de compra dos brasileiros caiu consideravelmente. Quem recorreu à obtenção de crédito através de empréstimo pessoal também viu a taxa de juros crescer exponencialmente no período, saindo de 2% ao ano para 13,75%.
Com todos esses fatores “atrapalhando” a vida da população, é possível entender que o problema da insegurança alimentar nas famílias que estão em situação de vulnerabilidade social é mais grave do que apenas receber o auxílio de R$ 600.