Praça multiuso proporciona lazer às pessoas e melhora até o comércio em União Bandeirantes
Em tempos de casebres cobertos de lona e piso de chão batido, iluminação a lamparina e lampião a querosene, antigamente a população do Distrito de União Bandeirantes tinha como lazer espetáculos de circos, rodeios e parques de diversão. Era o sertão em toda a sua essência.
O distrito conserva seus ares antigos, mas agora deixa de ser “apenas” sertão. Duas décadas depois, no terreno com quase 9 mil m² de extensão onde tudo aquilo acontecia, o Governo de Rondônia vem concluindo a construção de uma bonita praça pública.
As obras são executadas pela Secretaria de Estado de Obras e Serviços Públicos (Seosp), recentemente desmembrada do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem e Transportes (DER). O secretário, coronel Erasmo Meireles, já inspecionou algumas vezes os serviços, acompanhado de sua equipe.
A síntese dessa praça a dez metros da ponta da Avenida Três de Dezembro e a 120 quilômetros de Porto Velho é a oportunidade da integração de famílias dos aproximadamente 40 mil habitantes, em sua maioria migrantes de diversos estados brasileiros.
Um passeio até o alto do Morro da Cabana permite ver o enorme espaço urbano ocupado depois de duas décadas das derrubadas da floresta.
Por enquanto, a diversão das crianças se divide entre disputas de bets, futebol de rua, e empinamento de pipas. Os adultos nunca tiveram diversão, agora desfrutarão dos bancos e do cenário da denominada Praça do Povo de União Bandeirantes.
A exemplo de outras, será também uma espécie de patrimônio cultural. No sábado (25), caprichosamente, os pedreiros aplicavam cerâmica numa parte do pergolado e no entorno irão instalar 40 lixeiras plásticas coloridas.
Nem inaugurada ela foi e já recebe centenas de pessoas que fazem caminhada, especialmente à noite. Academias da 1ª e 3ª idade atraem as pessoas que só viram algo semelhante na capital e noutras cidades rondonienses. A futura arborização lateral deverá garantir frequência normal durante o dia.
Olhando de um lado para o outro, o piauiense Antonio Abreu da Mata, 68, o Andorinha, aponta as casas de uma oficina e a casa vizinha: “Aquelas ali foram as primeiras da cidade”.
Antes da criação do distrito, esse pioneiro plantava arroz, feijão, banana e mandioca. “A macaxeira a gente levava pra Porto Velho pra manter o churrasco de esquina; hoje temos de tudo um pouco”, diz Antonio Abreu, morador há 22 anos na cidade.
Uma linha de ônibus da Viação Santa Paulina do Norte leva e traz passageiros entre o distrito e Porto Velho.
Ao redor, comerciantes comemoram. Antes, ali já se concentram exatamente 17 estabelecimentos, de madeira e alvenaria. Uma Igreja evangélica também ocupa um dos terrenos. Dos quatro hotéis, um também fica em frente à praça.
“Antigamente, as pessoas capinavam esse terreno, eu mesmo fui um que taquei veneno no mato e capinei”, conta Agrimaldo Martins de Oliveira, 48 anos, dois filhos. Dono de restaurante, ele se mudou há seis anos de Nova União, na região central do estado.
Os pais de Agrimaldo vieram de Mantena (MG) em 1976, mas ele mesmo é rondoniense nascido no Distrito de Rio Branco. “Chequei aqui em 17 de janeiro de 2003”, ele lembra.
Ex-enfermeira em Alto Alegre dos Parecis, Maria Rocha de Oliveira, conhecida por Maria Top Modas, criou quatro filhos, e hoje, com 12 netos e quatro bisnetos, confia no progresso. Veio de Cacoal em 2002, criou gado misto, vendeu a propriedade em 2004, e atualmente se dedica inteiramente ao comércio.
“Como, bebo e compro remédio com o dinheiro que ganho aqui”, ela relata.
Na parede de sua loja de utilidades está escrito: Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão sucedidos” (Provérbios 16:3).
“A praça vem melhorar bem a vida de crianças e adultos”, fala convicta assistida atentamente pelo menino Danilo Roney Pereira, 12, aluno do 6º ano escolar.
Sem aulas por causa da pandemia do novo coronavírus, Danilo sai da calçada da loja de dona Maria para brincar com os amigos na praça, sob o calor de 34 graus.
“Nós jogamos é na rua mesmo”, ele diz mostrando o rumo da Rua Triângulo, de chão batido. Em seguida, leva os repórteres à beira do alambrado para conhecer a quadra de areia e o gramado sintético da quadra de futebol society onde sonham jogar daqui a alguns dias. A praça toda é iluminada por lâmpadas de LED.
Danilo chama o Gabriel Vitor Rocha de Oliveira, 11, também aluno da Escola César Freitas Cassol, para mostrar suas habilidades. “A bola está furada, a gente tá fazendo uma vaquinha pra consertar, mas se ganhar uma nova vai ser muito bom”, ele sugere.
Entre adultos, a sensação é o time de futebol X Treme, que reúne os melhores do distrito. A equipe já disputou torneios em Jacy-Paraná, Candeias do Jamari, Guajará-Mirim e Porto Velho.
Estatutariamente, de segunda-feira a sábado, Rejiane Teixeira, 34, passou a servir três cafés-lanche à freguesia da panificadora, às 7h, 9h e 15h. As obras impulsionaram as vendas de pão quente, pães especiais, bolos de milho e outros produtos.
“O cafezinho é daqui mesmo de nossas lavouras”, Rejiane conta enquanto coa.
A cidade tem sua própria marca, o “Aroma do Campo”, conhecido e aprovado pelas secretarias estadual e municipal da agricultura.
O café clonal, cujas técnicas de manejo, colheita, pós-colheita e seleção de cultivares são ensinadas por extensionistas da Emater-RO é bem cultivado em União Bandeirantes. Há propriedades com lavouras de 30 a 40 alqueires plantados. A cotação da saca de 60 quilos atualmente é de R$ 280.
Mineiro da cidade de Conselheiro Pena, Florentino Teixeira, seu Bil, 62, pai de Rejiane, foi pioneiro em Ouro Preto do Oeste e também bisou a dose em União Bandeirantes. “Ele é incansável, não sai do sítio”, ela elogia.
A diversificação agrícola e pecuária impulsiona o distrito. Café, mandioca, milho, leite, e “a melhor banana de Rondônia”, conforme alardeiam os agricultores, abastecem feiras, beneficiadoras e supermercados da Capital.
Dezoito anos depois de chegar ao distrito, o mineiro José Lopes Ferreira, 47 anos, com três filhos, arrendou 21 hectares de pasto para gado nelore. Mas elogia o café: “É o melhor da região”.
Feliz com a praça, a lojista, Gisele Benedita dos Santos não consegue conter a filha Alice, de um ano e 11 meses: “Todo dia ela me puxa pelo braço e aponta os brinquedos”. Na tarde de sábado, crianças usufruíam do novo espaço, o que, segundo o engenheiro civil da obra, Thiago Rosas, já vem ocorrendo desde a instalação dos equipamentos.
aiba mais
► O distrito foi instalado em três de dezembro de 2000. Tem atualmente unidade básica de saúde composta por uma equipe de Saúde da Família, integrada por médico, enfermeiro, odontólogo e técnico de enfermagem.
► As obras da praça começaram em 2019 e foram retomadas em abril de 2020. A praça tem área de intervenção de 8.630,31m², com academia tubular, playground, quadra esportiva e campo de grama sintética.
► 25 homens trabalham na conclusão, inclusive nos fins de semana, em turnos das 7h30 às 11h30, e das 13h30 às 17h; aos sábados, das 7h30 às 11h30.
► Com o marco regulatório do saneamento básico, as obras de instalação da rede de água deverá ser concluída. Já existem canos enterrados em diversas áreas centrais.
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Edcarlos Carvalho