Estudo investiga por que algumas pessoas se contaminam pela covid e outras próximas não
Um estudo da Universidade de São Paulo está investigando por que algumas pessoas acabam não se infectando, mesmo rodeadas de outras tantas que ficaram doentes.
A tranquilidade da matriarca quase centenária contrasta com o medo que a família Ferri passou. No começo da pandemia, o filho Antônio, de 72 anos, conviveu com ela, com a mulher e os filhos sem saber que estava com novo coronavírus.
“Fiquei 14 dias internado. Eu fiquei muito preocupado com isso, achando que, minha mãe, 98 anos, minha esposa, dorme comigo, então o perigo muito maior”, diz Antônio Ferri, comerciante.
“Eu tive muito medo que pudesse acontecer isso. Por todos, a gente que convive com ele, principalmente eu e ela no dia a dia”, conta Luiza Ferri, mulher de Antônio.
Além de ter contato com seu Antônio, o filho dele convive com a mulher, que também teve Covid, mas ele não pegou e nem dona Luiza, dona Carmem e nem a outra filha, Adriana, que já foi pesquisadora da área de biologia.
“Nós percebemos que tinha algo diferente. Então, nós começamos a achar que poderia ter alguma coisa talvez que a ciência pudesse explicar”, diz Adriana Ferri, filha de Antônio.
Erik e Thaís moram juntos desde janeiro e tinham tudo para dividir também a Covid-19 que o Erik pegou de um amigo comum.
“Depois que a pessoa confirmou que estava contaminada, eu comecei a ter os sintomas também. Aí eu já busquei auxílio médico”, conta Erik Araújo, dono de restaurante.
“Como eu tinha sido exposta também, eu falei: ‘Não adianta a gente se separar’, então a gente ficou o tempo todo em casa, dormindo no mesmo quarto, na mesma cama e sem nenhum sintoma”, diz a veterinária Thais Andrade.
Assustadora para quem tem os sintomas e intrigante para quem tinha tudo para pegar e escapou do novo coronavírus. Médicos e cientistas já sabem que uma parcela da população tem um sistema imunológico capaz de enfrentar com sucesso a Covid-19, mas pesquisadores suspeitam que a genética pode dar novas explicações.
É por isso que o sangue da família Ferri, da Thaís e de outras pessoas que conviveram com doentes, sem pegar a Covid-19, está sendo coletado no centro de pesquisas sobre o genoma humano da USP.
“A gente quer entender por que existe essa variabilidade. E a gente acredita que isso está nos nossos genes. Então, para poder descobrir isso, eu resolvi focar nos dois extremos: então, nas pessoas que infelizmente tiveram formas muito graves e foram a óbito, e do outro lado as pessoas que são resistentes, que foram infectadas e principalmente pessoas mais idosas, nonagenários e centenários”, afirma Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas Genoma Humano, da USP.
Os pesquisadores esperam novos voluntários com perfil resistente para descobrir se existem genes protetores contra a Covid-19. Pode ser um dos caminhos para enfrentar o novo coronavírus e outros desafios do mesmo tipo.
Jornal Nacional: E vocês vão ajudar as ciências, aí?
Luiza Ferri: Se Deus quiser, o quanto a gente puder.
“Se a gente puder contribuir através dos nossos genes, do nosso DNA, isso para mim será algo super-relevante”, afirma Adriana Ferri.