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‘Nem homem, nem mulher, travesti’: Quem é Linn da Quebrada e o que significa ser travesti hoje

Depois de 21 edições, a cantora Linn da Quebrada é a primeira travesti a participar do Big Brother Brasil. A participação da artista no programa levantou debates sobre identidade de gênero dentro e fora da casa. Afinal, o que é ser travesti?

 

Linn da Quebrada, de 31 anos, é cantora, atriz, apresentadora e agitadora cultural. Até os 12 anos foi criada dentro da religião Testemunha de Jeová. Quando começou a entender mais sua sexualidade, Linn acabou sendo expulsa da congregação e buscou a arte para expressar sua identidade.

Em São Paulo, começou a trabalhar em um salão de beleza, foi performer, descobriu a música e se encontrou. Mas, aos 23 anos, a descoberta de um câncer mudou sua forma de se perceber. “Passei pelo processo de quimioterapia e perdi os cabelos, mas foi o momento em que eu mais me aproximei de mim mesma. Adoecida, dentro de casa, eu deixava de ser interessante aos outros olhos”, relatou em entrevista ao Gshow.

O que é ser travesti

 

Para começar a entender a história da artista, uma parte importante é compreender sua identidade de gênero.

“Eu quero que me vejam como uma travesti. Não quero que só me vejam como uma mulher. Sou uma mulher, mas sou uma mulher travesti. É importante!”, disse, em conversa com alguns colegas de confinamento.

Ao BHAZ, a historiadora e comunicadora Giovanna Heliodoro explica que a origem do termo travesti está ligada à história da identidade de gênero no Brasil. “Primeiro é preciso dizer que é difícil definir um significado de uma identidade, uma vez que a gente passa por diversas revoluções ao longo da história. É importante conhecer um pouco do contexto do surgimento dessa palavra”, ressalta.

 

Giovanna reforça que a palavra travesti esteve por muito tempo associada às pessoas que estão à margem. “Esteve ligada à imagem da violência, trabalho sexual, roubo, morte… Então as pessoas têm dificuldade de entender que não é uma palavra pejorativa”, reforça.

Para a coordenadora adjunta da Aliança Nacional LGBTI em Minas Gerais, Letícia Imperatriz, a identidade de travesti se contrapõe ao estereótipo pejorativo, mas também a uma visão binária de gênero. ” Vem de um movimento político de ressignificação social do termo, e também foi e tem se desenvolvido como uma identidade trans num contexto não binário ou um terceiro gênero”, acrescenta.

Travesti ou mulher trans?

 

Letícia também explica que tanto mulheres trans como travestis são pessoas trans. Isto é, pessoas que não se identificam com gênero designado ao nascimento. “Mas ser mulher trans e travesti trazem cargas e estigmas diferentes”, ressalta a ativista.

A historiadora Giovanna também esclarece que a identidade feminina da mulher trans ou travesti também não está ligada à genitália e a cirurgia de mudança de sexo pode acontecer ou não. “‘Trans’ é usado por influência da palavra transgênero, que não existe em português, mas é também uma tentativa, socialmente, de higienizar esse termo”, detalha.

“Travesti é principalmente uma forma de se identificar, numa tentativa de se posicionar politicamente. É uma demarcação de espaço social. Enquanto pessoas trans, não estamos dispostas a reproduzir essa lógica do que é da mulher, do que é homem”, afirma Giovanna.

 

“‘Eu não sou homem, nem mulher, eu sou travesti’. Como bem disse a Linn, eu estou em outro lugar, em uma outra demarcação de espaço. A gente está construindo uma nova narrativa do que é o ser feminino”, continua.

 

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