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No Dia Mundial dos Animais, voluntários comemoram o resgate e adoções de cães maltratados e mutilados em Porto Velho

Neste ano atípico, Rondônia comemora não apenas a vida das espécies resistentes, mas a recuperação daquelas sujeitas a maus-tratos, caça desenfreada e queimadas.

A salvação de diversos tipos de animais bípedes e quadrúpedes é feita no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), na sede do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), em Candeias do Jamari, a 18 quilômetros de Porto Velho.

Neste domingo (4) é também lembrado o Dia de São Francisco de Assis, protetor dos animais e da natureza. Ele nasceu na cidade de Assis, Itália em 3 de julho de 1182 e morreu em 4 de outubro de 1226.

Em meio à maldade humana, o voluntariado despertou, chegando à internet. Em 21 de março de 2018, o Projeto Adote 1 amor começou suas atividades com muita vontade de diminuir o abandono e o sofrimento de cães em Porto Velho.
Um cachorrinho de nome Cani foi o primeiro a ser resgatado após ser queimado num posto de combustível próximo à Faculdade de Rondônia, em abril daquele ano.

“Muita gente se comoveu com a situação”, lembra a administradora Patrícia Lauer, que também trabalha na Maternidade Municipal da capital.

“Cani ficou dois meses internado em uma clínica veterinária, sob a responsabilidade do médico veterinário Luiz Maia; foi ressocializado e adotado no início de 2019 por Luanda [não voluntária]”.

O organização comunitária voluntária começou com uma página na rede social, atualmente mobilizando 8,5 mil seguidores, na qual funciona como plataforma de vendas on-line. Foram 779 posts até esta semana, cerca de 300 com adoções finalizadas.

“A visualização é grande, as pessoas nos procuram enviando fotos dos animais que elas têm em casa, ou que acharam na rua”, diz. Com gratidão, ela menciona outros veterinários parceiros: “Dr.Francisco e Dr. Renato de outras clínicas veterinárias da cidade; também já fizemos eventos juntamente com a Taís e o Dr. Carlos Henrique”.

O ato de adoção é feito entre o tutor e a pessoa interessada. Conforme Patrícia, em consequência da grande demanda, os animais são mostrados na rede social. “Somos 21 moderadores da conta, promovemos bazares para a causa animal e arrecadamos doações e ajuda monetária de nossos seguidores”, explica.

“A pessoa lê a página, escolhe o animal com o qual se identifica, entra em contato com o número telefônico do tutor, e nós apenas mediamos essa adoção”, explica.

A comprovação da adoção mediante o envio de foto por quem adota o animal é essencial ao funcionamento do projeto. “Infelizmente, nem todos os tutores, nem todos os novos donos fazem isso, e nós não temos como cobrar, porque fazemos o trabalho voluntário”, alerta.

Patrícia usou cartão de crédito e conta que se endividou nas primeiras ações do grupo, e a partir daí optou por ser promoter de adoções.
Veterinários parceiros tiram dúvidas, entre os quais, a médica veterinária e bióloga Adriana Soares, que se tornou conselheira honorária do grupo, depois de resgates e socorros. “Os demais, mesmo alguns não fazendo parte do projeto, são também honorários”, enfatiza Patrícia.

O projeto não recebe animais, porque não dispõe de abrigo, nem de carro, porém, promove diversas ações solidárias e de amparo aos animais. O grupo vende livros e objetos de decoração. A arrecadação é demonstrada nos storys da página, da mesma forma, os investimentos em ações em execução ou em planejamento.

A equipe principal de voluntários e moderadores trabalha na página da rede social praticamente 24 horas, informa Patrícia. “São pessoas incríveis: conto com a ajuda da Bia, Andréia, Emanuela, Carlos, Gabriela, Leonara, Ingrid, Letícia, Nael, Sabrina Sá, Sabrina Ávila, Tayná, Kattyllyn [da filial em Guajara-Mirim], Letícia, e Naell”, lembra.

Outra equipe de pessoas que têm carros ajudam na parte de boas ações do Adote 1 amor. “Com a falta de abrigos e de verbas específicas, cabe a nós, protetores independentes, promovermos o que achamos de maior valia em prol de animais

abandonados, mutilados, infelizmente maltratados”.

Patrícia diz que é difícil pensar em desistir, mesmo diante de dificuldades: “Sempre deixamos bem claro na página que o Adote trabalha por amor e não temos como abandonar algo que está dando certo”. “Todos têm seu emprego, sua faculdade, temos os moderadores na rede social, fazemos tudo conforme a nossa disponibilidade de horas”.

O propósito desse projeto é erradicar toda a violência e abandono animal em Porto Velho.
“Os animais só querem o nosso bem, como nós queremos o bem deles, porém, muitas vezes a ignorância permeia a maldade, maus-tratos, e uma cultura enraizada de abandono”. E acrescenta emocionada: “Vê-los ressocializados é a nossa gratificação; se ” não fizermos, não têm quem faça”, apela lembrando às pessoas que podem procurar ajuda.

Muitas pessoas adotam animais na capital, quando acontece de se depararem com o sofrimento deles à sua frente. Caso de Emanuelle Pontes, moradora no bairro Conceição [Zona Sul de Porto Velho].

Segundo ela, um ano atrás apareceu em seu quintal uma gatinha magra, dentes quebrados e faminta. Adotou-a imediatamente.

“Dei o nome de Zulema para ela e percebi que ficou traumatizada quando foi vacinada, e isso deve ter prejudicado a cria de cinco filhotes, porque três morreram”, conta. Emanuelle ficou com um filhote e deu outro à cunhada.

“A pena agora aumentou de dois a cinco anos, para quem pratica maus-tratos, fere ou mutila animais”, adverte a delegada Janaína Xander Wessel, titular da Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente em Porto Velho.

Ela se refere à Lei 1.095/2019, sancionada terça-feira (29) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Conforme a nova legislação, o infrator também fica impedido de ter a guarda de novos bichos. Esse texto modifica o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais 9.605/98, que previa a pena previa de três meses a um ano de reclusão, além de multa.

Pouco mais de um ano atrás, policiais ambientais recolheram da Avenida Jorge Teixeira um tamanduá ferido. Havia perdido seu hábitat natural.

De acordo com a delegada, o Núcleo de Proteção aos Animais promove ações de conscientização e combate a esses delitos, mas é preciso que a população colabore. “Temos que ampliar nossa atuação para melhor proteger os animais”.

“Agora será outra vez possível atender à demanda para a destinação de animais vítimas de maus-tratos”, considera a médica veterinária do escritório regional de gestão ambiental da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) em Ji-Paraná, Márcia Gomes da Silva.

Ela elogia a reforma e a reabertura do Cras, depois de sete anos desativado, na sede do BPA.

O primeiro pássaro a ser resgatado pela equipe do Cras foi uma coruja, lembra o comandante, tenente Alisson Pereira. “A soltura aconteceu no dia 8 de abril deste ano”, ele diz.

Desde março de 2020, 43 animais de diversas espécies passaram por ali. O Cras voltou a funcionar em março deste ano, no início da pandemia do coronavírus e antes das queimadas.

CONSTANTE DESAFIO

O Cras recepciona, faz triagem e reabilita animais silvestres apreendidos em operações de combate ao tráfico, atropelados nas rodovias, encontrados machucados e entregues voluntariamente pela população ao BPA, para que depois de reabilitados sejam devolvidos à natureza.

Segundo a delegada Janaína, apesar de tomarem conhecimento da Lei nº 4.656 de 20 de novembro de 2019, que dispõe sobre a obrigatoriedade de constatarem indícios de maus-tratos em animais sob seus cuidados, pet shops ainda não fizeram denúncias.

“Eles têm ciência disso, porém, a fiscalização ainda é difícil e nós precisamos encontrar uma forma deles nos comunicarem situações assim, sem serem expostos ou, possivelmente, prejudicados”, diz a delegada. Pela Lei, clínicas veterinárias e hospitais veterinários também devem informar quando constatarem maus-tratos.

Para a médica veterinária Márcia Gomes, o funcionamento da reabilitação qualifica ainda mais o trabalho da Polícia Militar, facilitando a ação da Sedam.

Reformado, o Cras estava desativado e o atendimento público fora suspenso, lembra o subcomandante do BPA, capitão Jairo Alves Carneiro. Segundo ele relata, antes da pandemia, a equipe do BPA dava palestras educativas sobre a fauna e a flora para crianças e adolescentes.

Era comum a visita de grupos de alunos acompanhados de professores, para assistir aulas em salas temáticas. Até 2021 é possível que sejam retomadas as aulas de respeito ao meio ambiente.

“Quando se trata de filhotes, a soltura exige cuidados parentais; a família do animal silvestre o ensina a se defender, porém, fica difícil quando ele não tem essa família”, explica Márcia.

Cuidar de herbívoros e insetívoros é mais fácil, sugere a médica. “Veados e tamanduás são logo recuperados, mas a onça, o gato mourisco e o cachorro do mato precisam readquirir agilidade, ter o corpo treinado para fazer a caça com sucesso depois da soltura”, assinala.

Animais recuperados no Cras são devolvidos à natureza em zonas de baixa pressão, onde não ocorrem caçadas.

Queimadas seguem inimigas da preservação da fauna em Rondônia. De acordo com a médica, jabutis e bicho-preguiça estão entre as maiores vítimas, devido a sua movimentação mais lenta. Nas águas, eles se refugiam bem, mas na mata são presas fáceis.

 CORREDOR ECOLÓGICO

 Segundo o subcomandante do BPA, major Jairo Alves Carneiro, atualmente, o Cras abriga um filhote de anta, dois periquitos-da-Amazônia, um periquito-de-cabeça-suja, duas araras canindé, dois papagaios-verdadeiros, dois jabutis, três tracajás e um tucano.

“O Batalhão é um corredor ecológico: possui uma pequena área de mata onde recebe visita de alguns macacos, e eles vivem tranquilos entre as árvores”, diz o subcomandante.

Dentre as espécies que aparecem nessa área se destacam: Zoguezogue, parauacu [o conhecido macaco velho] sauim-de-cara-suja, mico Rondônia [espécie rara e endêmica de Rondônia]. Esse mico foi descoberto e catalogado em 2008, porém, já se encontra na lista de vulnerabilidade do Ibama.

Nesse aspecto, Márcia chama a atenção para as perdas de animais durante os meses de queimadas. “Algumas mães morrem com os filhotes, mas não os abandonam”.

Também a territorialidade influencia na soltura e na preservação. Segundo ela, os animais sentem dificuldade em viver noutro ambiente, tão habituados que estão ao seu, mesmo quando destruído. “A readaptação a outra área é muito difícil”.

Diariamente o BPA recebe denúncia de maus-tratos de animais. O Batalhão tem 35 anos de atuação. Seu eixo mais nevrálgico ainda é o Vale do Jamari, onde ocorrem derrubadas ilegais de mata e queimadas. Outras regiões também exigem a sua presença, entre elas, aquelas com terras indígenas e de onde há extração ilegal de madeira bruta.

* O BPA apoia ações do Departamento de Polícia Federal, Exército Brasileiro, ICM-Bio, Ibama, Sedam, Subsecretária Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e outras secretarias municipais. Trabalham no Cras: o 1° Tenente PM Alisson Lopes Pereira, 1° sargento José Marcos Ferreira dos Santos, 3° sargento Eraldo de Macedo, Cabo Clerle Pereira de Souza, Cabo Rafael da Costa Lima, Cabo Rafael da Costa Lima, Cabo Fábia Regina Araújo da Silva, Cabo Luciana Soares Candeia, soldado Wesly de Souza Castro, Cabo Edmar Fagundes, e o 3° sargento Cledison Costa Monteiro.

DENUNCIE MAUS-TRATOS COM ENVIO DE FOTOS
197 ou pelo wathsapp 984187820
Ou procure diretamente a Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente, na Avenida José Amador dos Reis nº 3214, Bairro JK 1.

FALE COM O BPA
69 3230 1088 e 69 9 99956874

FALE COM A SEDAM
0800-647-1320 e 3212-9648

FALE COM O CORPO DE BOMBEIROS
193 ou pelo whatsapp 98482-8690 que funciona 24 horas.

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