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O que sabemos sobre a enorme explosão no Líbano?

A explosão que aconteceu na região portuária de Beirute na manhã desta terça-feira, 4, deixou pelo cerca de 4.000 feridos e mais de 100 mortos, segundo contagem oficial do governo do Líbano.

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As possíveis causas estão sendo investigadas, mas a suspeita é de que um armazém com grande quantidade de nitrato de amônio pode ter provocado o acidente. Por enquanto, descarta-se atentado terrorista. Para o diretor-geral de Segurança Geral, Abbas Ibrahim, “as violentas explosões podem estar ligadas a materiais explosivos confiscados e mantidos em um armazém por anos.”

Hassab Diab, primeiro-ministro libanês, declarou luto oficial de três dias e que o governo vai investigar os responsáveis pelo armazém que funciona no porto da capital desde 2014.

Os hospitais do Líbano, segundo a mídia local, declararam que não podem mais admitir nenhum paciente e que estão fazendo campanha para doações de sangue. O governo da capital pede que os feridos sejam levados para atendimento em centros de saúde de fora da cidade.
Segundo a Cruz Vermelha, barcos foram mobilizados para resgatar pessoas que foram jogadas ao mar após a explosão. Também segundo a organização humanitária, ainda há gente presa nos escombros e dentro de suas casas.

Como foi a explosão
Em vídeos publicados nas redes sociais, é possível ouvir um forte barulho, seguido por uma nuvem de fumaça que lembra o formato de um cogumelo — comum em situações em que há explosão de bombas. A explosão mais forte parece ter acontecido depois de outra, mais fraca.

Há relatos também de danos causados em prédios vizinhos ao local que fica localizado na zona portuária da cidade e de caos nas ruas da região central. Segundo a rede televisiva libanesa LBCI, foram registrados danos na residência do ex-primeiro-ministro Saad Hariri, que fica no centro de Beirute. Além dos vídeos em que é possível ver a explosão, pessoas têm publicado imagens de como a cidade está no momento. É possível ver muita poeira, carros amassados e janelas de prédios quebradas.

Nitrato de amônio: o que é e por que é perigoso
Segundo o primeiro-ministro libanês, pelo menos 2.700 toneladas de nitrato de amônio armazenados de maneira inadequada foram os responsáveis pela explosão no Líbano. Resquícios da substância já se espalharam na atmosfera e há indícios de que chegaram até a Síria.

O nitrato de amônio é um composto químico, um sal cristalino inodoro, incolor ou branco, produzido pela reação da amônia e do ácido nítrico que não é perigoso por si só, mas quando tem contato com produtos ou materiais oxidantes, ou quando aquecido, por correr risco de ignição. Ao entrar em combustão, ele gera o óxido nitroso, que pode agravar o efeito estufa e ser 273 vezes mais nocivo do que o dióxido de carbono. Somente sob condições extremas de calor e pressão em um espaço confinado o nitrato de amônio explodirá. Caso ocorra tal incidente, pode haver uma nuvem visível de amônia, dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio.

Ele também tem sérios efeitos na saúde humana, como irritações nos olhos, na pele e no trato respiratório, e até no sangue, devido uma substância presente no nitrato, causando uma doença chamada metahemoglobinemia, ou doença do bebê azul. Se o produto químico for inalado, pode causar uma infecção do trato respiratório. De acordo com o Nortech Labs, entre os sintomas de infecção por nitrato de amônio estão: tosse, dor de garganta, falta de ar e asfixia.

Considerado um componente importante para misturas de fertilizantes, ele fornece fonte de nitrogênio para plantas, o que aumenta o crescimento e o rendimento das culturas. Pequenas quantidades de nitrato de amônio também são vendidas como aditivo para mineração de explosivos e outros usos não agrícolas.

Explosões acidentais notáveis ​​de nitrato de amônio já foram registradas. Em 1947, mais de 500 pessoas morreram no Texas vítimas de uma das maiores explosões acidentais da história americana. Em 2013, uma fábrica de fertilizantes também no Texas explodiu matando 15 pessoas.

Repercussão
O presidente Jair Bolsonaro usou sua conta no Twitter para manifestar solidariedade às famílias dos mortos e aos feridos em explosão ocorrida na região portuária de Beirute, capital do Líbano. Ele disse estar “profundamente triste” com as cenas da devastação provocada.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a explosão parece ter sido um “ataque”. Na coletiva de imprensa diária sobre a pandemia de covid-19, o republicano disse ter conversado com generais dos EUA que não acreditam que a tragédia tenha sido causada acidentalmente. “Eles parecem pensar que foi um ataque. Foi algum tipo de bomba”, declarou Trump.

O líder da Casa Branca prestou condolências às vítimas e disse que os EUA estão prontos para ajudar o Líbano. A explosão destruiu grande parte de um porto e danificou edifícios em toda a capital libanesa. Pelo menos 70 pessoas morreram e mais de 3 mil ficaram feridas, de acordo com as autoridades locais.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse em seu perfil do Twitter que as fotos e os vídeos vistos hoje são chocantes. “Todos os meus pensamentos e orações estão com os envolvidos neste terrível incidente. O Reino Unido está pronto para prestar apoio da maneira que pudermos, inclusive aos cidadãos britânicos afetados.”

Já o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que manifesta solidariedade com os libaneses e que “a França fica ao lado do Líbano. Sempre. A ajuda e os recursos franceses estão sendo entregues no local.”

E o Brasil?
Segundo Antonio Henrique Noronha, sócio do Faveret Lampert Advogados, especialista em direito portuário, o Brasil adota um sistema de normas de prevenção para que não aconteça o que foi visto hoje em Beirute. As autoridades portuárias como os terminais privativos são obrigadas pela agência reguladora (ANTAQ) a manter padrões de segurança que refletem tratados e mecanismos internacionais. “Existe um sistema internacional que prevê regras para utilização de produtos perigosos em geral, como o nitrato de amônio, petróleo e derivados”. “O porto como um todo é um ambiente muito regulado, internacionalmente e nacionalmente. O Brasil tem um bom sistema, apesar de lidar com cargas perigosas, como fertilizantes”.

Ainda segundo Noronha, existem barreiras internas assim como externas — de tratados internacionais — que regulam normas sobre o armazenamento e transporte de cargas perigosas. “É um sistema bem regulado e muito organizado, e não é por falta de norma que eventualmente um acidente como esse acontece”, disse à EXAME.

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