Paciente parte do nariz após preenchimento labial
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar um procedimento estético que não saiu como o esperado em uma clínica odontológica em Angra dos Reis (RJ). O paciente Thiago Delgado, de 35 anos, pagou R$ 1,8 mil para uma aplicação de ácido hialurônico nos lábios e acabou sofrendo um acidente vascular — o G1 optou por não mostrar as fotos por considerá-las fortes.
Eu cheguei a pedir para Deus levar a minha vida, porque eu não ia aguentar tanta dor
— Thiago Delgado, após preenchimento labial malsucedido
O caso aconteceu no dia 11 de junho de 2021. O dentista responsável pelo preenchimento labial foi Ronaldo de Carvalho Kora, da clínica Odontokora. No lado superior direito, não houve nenhuma complicação. No lado esquerdo, o problema começou a dar os primeiros sinais.
“Assim que ele começou a fazer o preenchimento no lado esquerdo, eu vi que ele começou a ficar muito nervoso. Eu perguntei: Ronaldo, está tudo bem, eu estou ficando bonito? Ele ficou quieto, calado. Nisso, eu comecei a ficar um pouco desesperado. De imediato, ele começou a massagear muito, e essa massagem que ele fazia doía muito”, descreveu o paciente.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar um procedimento estético que não saiu como o esperado em uma clínica odontológica em Angra dos Reis (RJ). O paciente Thiago Delgado, de 35 anos, pagou R$ 1,8 mil para uma aplicação de ácido hialurônico nos lábios e acabou sofrendo um acidente vascular — o G1 optou por não mostrar as fotos por considerá-las fortes.
Eu cheguei a pedir para Deus levar a minha vida, porque eu não ia aguentar tanta dor
— Thiago Delgado, após preenchimento labial malsucedido
O caso aconteceu no dia 11 de junho de 2021. O dentista responsável pelo preenchimento labial foi Ronaldo de Carvalho Kora, da clínica Odontokora. No lado superior direito, não houve nenhuma complicação. No lado esquerdo, o problema começou a dar os primeiros sinais.
“Assim que ele começou a fazer o preenchimento no lado esquerdo, eu vi que ele começou a ficar muito nervoso. Eu perguntei: Ronaldo, está tudo bem, eu estou ficando bonito? Ele ficou quieto, calado. Nisso, eu comecei a ficar um pouco desesperado. De imediato, ele começou a massagear muito, e essa massagem que ele fazia doía muito”, descreveu o paciente.
Caso irá para a Justiça
Uilian Loose, advogado de Thiago, disse ao G1 que a prioridade no primeiro momento era cuidar da recuperação de seu cliente, mas que já entrou com ações legais contra o profissional responsável pelo procedimento.
“O que a gente busca, no final das contas, é entender o que aconteceu durante o procedimento e no tratamento imediato assim que o Thiago começou a sentir dor. Nós registramos, como primeiro passo, um boletim de ocorrência. Tendo uma gama de provas que nós constituímos, nós teremos material suficiente para embasar o processo para que o Poder Judiciário possa nos dar uma resposta a respeito da complicação do Thiago”, explicou Uilian Loose.
O caso vem sendo acompanhado de perto pelo delegado Vilson de Almeida Silva, que aguarda o resultado do exame de corpo de delito para dar prosseguimento na investigação.
“No caso de alegação de erro médico, cabe à Polícia Civil investigar se houve culpa do profissional no atendimento à vítima. Normalmente, a vítima é encaminhada ao IML para que os peritos analisem se houve culpa no atendimento, ou seja, se o profissional atuou com negligência, imprudência ou imperícia”, explicou o delegado de Angra dos Reis ao G1.
Dentista diz que não negou ajuda
Em entrevista exclusiva ao G1, o dentista Ronaldo Kora reconhece o imprevisto durante o procedimento estético.
“O procedimento transcorreu de forma esperada do lado direito, sem qualquer evidência de intercorrência. Entretanto, ao iniciar o lado esquerdo, com a mesma técnica e material já utilizados, houve uma isquemia, que pode ser causada por uma obstrução vascular momentânea”, explicou.
Segundo o profissional, a aplicação da enzima para tentar reverter a situação adversa, a mesma indicada pela dermatologista de confiança de Thiago, começou no mesmo dia do procedimento.
“Assim que o paciente relatou os primeiros sintomas de uma possível intercorrência, de forma imediata, iniciei o procedimento de reversão do ocorrido. Além do pronto auxílio, busquei outros profissionais extremamente experientes para reversão da possível obstrução vascular, tudo com a devida ciência e autorização do paciente”, explicou Ronaldo Kora.
“O procedimento de hialuronidase foi repetido nos dois dias seguintes, sendo que, no terceiro dia, a aplicação foi realizada de hora em hora. O procedimento foi realizado com o objetivo de evitar que a intercorrência progredisse. Importante destacar que todos os protocolos descritos na literatura foram rigorosamente seguidos. Contudo, o paciente resolveu que buscaria auxílio com outro profissional”, alegou o dentista.
Ronaldo disse ainda que Thiago decidiu procurar outros profissionais para seguir com o tratamento e que arcou com as despesas enquanto pode.
“Arquei com todos os custos do Thiago nas primeiras semanas, o que representou um gasto de mais de R$ 50 mil, o que incluiu tratamentos médicos alternativos, hospedagem de luxo, locomoção de táxi, alimentação e etc”.
O dentista confirmou que aconselhou Thiago a procurar um outro profissional, mas lamentou que o paciente não tenha aceitado o tratamento indicado.
“Durante a consulta, o cirurgião plástico nos disse que seria necessária a retirada da casca da lesão ou queda natural da “casca” da asa do nariz para, então, realizar a primeira cirurgia reparadora. Dessa forma, ante à disparidade entre as opiniões médicas, sugeri uma terceira opinião e agendei uma consulta com um renomado cirurgião plástico no âmbito nacional e internacional, o que havia sido aceito pelo Thiago. Entretanto, o seu advogado entrou em contato comigo e informou que o paciente Thiago havia se negado a comparecer à consulta marcada”, explicou Ronaldo Kora.
“A obstrução vascular não é comumente revertida em poucas horas. É necessário que o paciente esteja inteiramente favorável aos procedimentos que são fundamentais para reverter esse efeito adverso. Infelizmente, o paciente não se dispôs a seguir integralmente com a conduta adotada por mim”, acrescentou.
O dentista agora aguarda que Thiago apresente o custo do tratamento. “Em razão de todo o exposto, como já dito para o próprio Thiago e seu advogado, estou aguardando a apresentação dos custos da cirurgia plástica, o que ainda não foi apresentado”, concluiu.
Conselho Federal de Odontologia ainda desconhece o caso
O Conselho Federal de Odontologia (CFO) reconhece como especialidade odontológica procedimentos de harmonização orofacial, entre elas, o preenchimento labial com ácido hialurônico, conforme a Resolução CFO-198/2019.
Procurado pelo G1, o CFO informou que o caso de Thiago ainda não chegou ao conhecimento do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro (CRO-RJ).
“A hipótese em referência não chegou ao conhecimento do CRO-RJ, que pela primeira vez informalmente dela tem notícia. Nenhuma providência institucional foi adotada pelo CRO-RJ até o presente momento, mesmo porque, como dito, o fato sequer chegou ao seu conhecimento”, informou.
Assim que for notificado, caso seja identificado descumprimento de alguma regra, o profissional poderá responder por processo ético-disciplinar.
“A prioridade do Conselho é garantir o respeito à saúde da população e a qualidade da Odontologia nacional, de acordo com a legislação vigente, que inclui também o Código de Ética Odontológica”, concluiu.