Polícia

A polêmica ‘autópsia’ do ET de Roswell

No dia 14 de junho de 1947, o rancheiro William Brazel disse ter encontrado um item curioso a 30 km da cidade de Roswell, Novo México, nos Estados Unidos. No mês seguinte, ele foi até a cidade, encontrou o xerife George Wilcox e afirmou que tinha se deparado com “um desse tal disco voador”.

Era o começo de uma história cheia de controvérsias e polêmicas, que durou até o começo dos anos 2000 e até hoje não tem solução exata. Ao longo dessas décadas, inúmeras pessoas afirmaram que eram ‘testemunhas’ do caso. Contudo, o mais curioso foi o surgimento de uma suposta autópsia do extraterrestre que teria caído com o disco voador.

Gravação da falsa autóspia (Foto: reprodução)

Era 1995 quando a Fox Television transmitiu uma filmagem que ficou conhecida como Alien Autopsy: Fact or Fiction (Autópsia de alien: fato ou ficção, em tradução livre). No dia 28 de agosto daquele ano, a emissora apresentou o que acreditava-se ser um vídeo de uma real autópsia do ET de Roswell.

Aquela, porém, não foi a única vez que a Fox passou a filmagem na sua programação, retransmitindo-a ao menos duas vezes, com audiências cada vez mais elevadas. Claro que isso iria acontecer: afinal, afirmava-se que aquele vídeo era verdadeiro — o que não passava de um hoax, palavra que define uma farsa planejada para parecer verídica.

Ao menos 11,7 milhões de telespectadores assistiram à autópsia falsa, e a TV contou com uma participação de 14% devido à transmissão. O caso foi definido pela revista Time na época que a gravação gerou um debate “com uma intensidade não esbanjada em nenhum filme caseiro desde o filme de Zapruder”.

A emissora, porém, não foi a única a obter licença para poder transmitir o filme: 33 outras compraram a gravação, que se tornou um sucesso imediato. Com um público extasiado pela suposta veracidade de estar finalmente vendo um alienígena, o filme parecia estar cumprindo seu propósito.

Quem vendeu a gravação foi o empresário Ray Santilli, com sede em Londres, que o apresentou como autêntica. O vídeo de 17 minutos, em preto e branco, mostrava médicos examinando o corpo de um alienígena — que parecia mais um corpo de ser humano com uma cabeça esquisita. O episódio teria acontecido em uma base militar secreta dos Estados Unidos.

A farsa

Santilli afirmava que um cinegrafista militar aposentado deu a ele a gravação, preferindo manter o anonimato sobre o caso. Essa história durou até 2006, quando o empresário finalmente admitiu que tudo não passava de uma farsa. Na verdade, eles prestaram atenção nos mais milimétricos detalhes para lançar o filme.

Segundo o fornecedor do vídeo, a Autópsia Alienígena era uma reencenação de uma filmagem supostamente vista por ele em 1992, provavelmente aquele militar aposentado já mencionado pelo empresário. De qualquer forma, nada do tipo foi encontrado mesmo anos depois, o que configura um furo em sua narrativa.

O cineasta Spyros Melaris foi o produtor responsável pela filmagem em questão. Ele contou ao tabloide inglês The Sun que usou órgãos de animais e cérebros de porco dentro de uma escultura alienígena para poder fingir a existência de um. O vídeo não foi filmado em Roswell em 1947: ele foi gravado na casa da então namorada de Melaris em Camden, norte de Londres.

“Não foi uma tarefa fácil e, além da aparência e sensação, o filme tinha que ser correto em todos os aspectos — os adereços, os figurinos, cada pequeno detalhe”, disse ao The Sun. “Tive a sorte de ter acesso a equipamento profissional de filmagem e edição. Mais importante, também tive acesso a um punhado de pessoas muito talentosas”.

A mentira foi bem articulada: eles até mesmo contrataram John Humphreys, um especialista em efeitos especiais de Hollywood, para transformar a nossa imaginação sobre como seria um alienígena em realidade. E, para bancar tudo isso, Santilli teve que desembolsar 54 mil dólares, o que dava por volta de 46 mil reais na época.

“Para mim, o filme ‘A autópsia alienígena’ foi um desafio. Poderia ser feito? Como mágico, eu queria criar a maior ilusão já apresentada em um palco global”, afirmou. “Ele nunca foi feito para ser outra coisa para mim. Depois que foi criado e alcançou aclamação mundial, especialistas dizendo que era real, outros disseram que não, ninguém provou isso de qualquer maneira”.

Para o cineasta, aquilo não passava de show business: afinal, seu intuito era entreter e causar choque. O que aconteceu foi, de certa forma, assim, mas acabou alcançando dimensões muito maiores que apenas um vídeo caseiro. No final, pelo menos podemos afirmar que a autópsia é nada mais nada menos que uma farsa.

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