Polícia

João Alberto foi ao mercado porque queria pudim e gastou cerca de R$ 60

O jeito brincalhão de João Alberto Silveira Freitas, 40, pode ter desencadeado os fatos que terminaram com a sua morte após ser espancado em uma unidade do Carrefour, na zona norte de Porto Alegre. Segundo sua mulher, a cuidadora de idosos Milena Borges Alves, 43, Freitas teria “brincado” com uma segurança do local, que acionou os colegas, que passaram a segui-lo e acabaram agredindo-o no estacionamento.

“Ele era bem comunicativo, muito brincalhão. Gostava de música, ficava dançando em casa”, relembra a esposa. Freitas era aposentado por invalidez após fraturar dois dedos e o fêmur enquanto trabalhava no Aeroporto Salgado Filho.

“Isso faz mais de dez anos”, conta a cuidadora de idosos. Os dois estavam juntos havia nove anos. Não tinham filhos, mas ele tratava a enteada como tal, diz a viúva.

Há menos de um ano, Freitas achou um gato em um terreno baldio e levou para casa. Praticamente não desgrudava do animal. “Andava para cima e para baixo com ele. Eram muito grudados”, conta.

Ele morava com a esposa em um apartamento na Vila do Iapi, na zona norte da cidade, local também conhecido por ser o local onde nasceu a cantora Elis Regina. A moradia fica a cerca de 600 metros do Carrefour, considerado supermercado referência para a família devido à proximidade.

Ontem à noite, Milena contou que os dois foram ao mercado após passarem o dia fora, com o pai dele. Freitas queria um pudim de pão e o casal foi ao mercado comprar os ingredientes, além do necessário para o jantar. Compraram beterraba, alface, tomate, ovos, leite, pão e leite condensado. Gastaram cerca de R$ 60.

Freitas também era ávido torcedor do time de futebol São José, o Zequinha, que também fica próximo da residência do casal. “Ele me deixava em casa para ir aos jogos, eu não gostava muito”, conta Milena.

A torcida do clube fez uma homenagem com posts com mensagens como “vidas negras importam” e a convocação de um protesto: “Amanhã estaremos no Carrefour Passo D’areia o dia todo, não vai ficar assim, queremos justiça, fizeram covardia com 1 irmão, agora segurem o Bonde Da ZONA NORTE!”.

Como passatempos, o casal costumava ir a shoppings e a parques, como o da Redenção, na área central da cidade. Entretanto, devido à pandemia, as idas a esses locais ficaram cada vez mais escassas.

De acordo com a Polícia Civil, Freitas tinha antecedentes criminais por violência doméstica, lesão corporal e ameaça. Uma fonte da polícia consultada pelo UOL, que pediu para não ser identificada, disse que violência doméstica foi contra uma outra mulher, e não a atual esposa.

Como foi

Milena conta que só viu o vídeo das agressões minutos depois. “Não esperava aquilo ali, que acontecesse aquilo ali. É complicado. Achei muito forte a cena, o que fizeram com ele foi absurdo”, disse.

O casal ficou poucos minutos no interior do estabelecimento escolhendo os produtos. Ao chegar ao caixa, Freitas acenou para uma segurança. Para Milena, o gesto teria desencadeado as agressões.

“A segurança se sentiu ofendida e chamou os colegas. Mas ele sempre foi muito brincalhão”, disse a esposa. Em seguida, outros seguranças passaram a segui-lo enquanto ele estava indo em direção ao estacionamento. Milena ficou no caixa para pagar.

Quando ela se dirigiu ao estacionamento, viu seguranças correndo e passando por ela. Não sabia que estavam atrás de seu marido. Ao chegar à garagem, deparou-se com dois homens imobilizando Freitas. Àquela altura, eles já o haviam espancado.

Os agressores eram um segurança do local e um policial militar temporário, que também fazia a segurança do local. Os dois foram presos, suspeitos de homicídio doloso. O advogado do policial disse que ele foi agredido por Freitas. O UOL ainda não conseguiu contato com a defesa do outro segurança.

 

Uma funcionária do Carrefour disse que Freitas desferiu um soco contra o policial. “A partir disso começou o tumulto, e os dois agrediram ele na tentativa de contê-lo. Eles (o policial e o segurança) chegaram a subir em cima do corpo dele, colocaram perna no pescoço ou no tórax”, disse o delegado plantonista Leandro Bodoia.

Quando eu fui tentar ajudar, o segurança me empurrou e aconteceu essa tragédia. A última coisa que ele falou para mim foi: ‘Milena, me ajuda’

Milena Borges Alves.

Em nota, a Brigada Militar informou que o policial não estava em serviço no momento das agressões. O Carrefour anunciou que decidiu romper o contrato com a empresa de segurança e fechará a loja.

 

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