Polícia
Menina de 11 anos vira suspeita de roubo por ter cabelo crespo e ser negra
Uma menina de 11 anos foi acusada de roubo por causa de sua cor e do cabelo afro. O próprio funcionário, quando pediu desculpas à família, afirmou que as suspeitas contra a menina foram por essas razões. A criança foi obrigada a levantar a blusa e provar que não havia furtado nenhum produto de uma loja de doces, localizado no bairro da Penha, na zona Norte do Rio de Janeiro.
O caso ocorreu no fim do mês passado e repercutiu nas redes sociais quando a irmã mais velha da vítima fez um post na internet. A jovem relatou que o homem contou sobre a abordagem de forma natural ao ser questionado. “Ele falou na maior naturalidade que eles precisam desconfiar mesmo, pois no local descem muitos meninos e meninas de comunidade para furtar a loja e que ele desconfiou dela por conta da cor e do cabelo black que havia caído no rosto quando ela abaixou”, disse a irmã.
A criança tinha ido até a loja sozinha a pedido da mãe para comprar pipoca para o aniversário da irmã mais nova, de 3 anos. Segundo a irmã mais velha, a menina foi abordada quando colocou o celular no bolso e se abaixou para pegar as pipocas na prateleira inferior. “Ela estava enrolada com a bolsa de dinheiro na mão, celular, e os saquinhos de pipoca que eram muitos. Ele chegou perguntando se ela tinha pego algo. Minha irmã disse que não fez nada. Mesmo assim, ele a mandou levantar a blusa. Foi quando ela começou a chorar, juntou um monte de gente no mercado, porque o local estava muito cheio. Ela ficou constrangida, envergonhada.”
A menina contou à família o que tinha acontecido e eles voltaram à loja. No local, foram recebidos pelo próprio funcionário que abordou a menina. Ele disse que havia desconfiado dela devido à cor da pele e ao tipo de cabelo.
A irmão contou ainda que a família acionou a polícia, mas foi informada que não era possível deslocar uma viatura para o local e orientou os parentes a fazer um boletim de ocorrência na internet. O caso foi registrado. Segundo a família, foi a primeira vez que a criança foi vítima de racismo e ela ainda está abalada. “Ela não quer mais sair de casa nem comprar mais nada sozinha. Ela fica me perguntando o motivo disso ter acontecido com ela”, diz a irmã.
O estabelecimento onde aconteceu foi procurado pelo UOL, mas não se manifestou até a publicação deste texto. O advogado da família, Oberdan Fernandes, afirma que a loja será acionada nas áreas civil e criminal, porque entende que houve crime de racismo e constrangimento ilegal da criança.