Saúde

ENTENDA: Sequelas da covid podem durar a vida toda e até matar; especialista explica

As sequelas causadas pela covid-19, que têm sido estudadas como uma nova doença, a covid longa, podem desaparecer em poucos meses ou acompanhar o paciente pelo resto da vida. Até mesmo em pessoas que tiveram sintomas leves. (Assista o vídeo no final da matéria)

Ao repórter MT, o Germano Alves, médico da família e linha de frente na luta contra a covid-19, explica os sintomas e gravidade de diversos casos.

 

Depois que o paciente passa da fase aguda da doença, os maiores riscos à vida são infecções secundárias, devido à diminuição da imunidade, tromboses e embolias”.

Sequelas ou Long-Covid

Cientistas que estudam o fato deram a nomenclatura de “Long-Covid” ou covid de longa duração, quando o paciente mesmo “curado da infecção”, ainda apresenta sintomas por tempo indeterminado como por exemplo: fadiga, cansaço, fraqueza muscular, dores de cabeça ou lombar, falta de ar, tosse, dificuldade de concentração e memória, insônia, perda de cabelo, ansiedade e até mesmo depressão e confusão mental.

“Desde o ano passado, estudos de centros de pesquisa que acompanharam os primeiros casos de covid mostraram que algumas pessoas podem desenvolver essas sequelas, ou como na terminologia em inglês; Long-Covid, que é a covid longa ou de longa duração. Hoje é discutido se esses sintomas são sequelas deixadas pela doença ou se é a própria covid se perpetuando no organismo do paciente. É diferente você falar que a doença foi curada e deixou apenas as sequelas ou se o vírus ainda está ali causando esses sintomas”, explicou o médico.

Germano explicou que a primeira hipótese do Long-Covid surgiu de um paciente nos Estados Unidos que teve covid, se curou e teve teste negativo para a doença após o tratamento. Porém, após cerca de 3 meses, ele foi diagnosticado com câncer.

“As sequelas da covid podem estar relacionadas, por exemplo, a uma lesão causada pela doença no pulmão de um paciente que tenha tido comprometimento de 90% e que ficou com uma fibrose no órgão. Nesse caso, muito provavelmente, essa pessoa vai sentir falta de ar pela vida toda.

Durante o tratamento esse paciente teve a imunidade reduzida e, supostamente, pegou covid novamente. No entanto, quando os médicos compararam o vírus da primeira infecção com a segunda identificaram que era o mesmo, ou seja, ele não pegou covid de novo, mas reativou o vírus que ainda estava no organismo.

A partir daí considerou-se que em alguns casos o novo coronavírus pode permanecer em estado de latência e perpetuar no paciente, podendo causar tais sequelas.

Atuação do Sars Cov 2 no organismo

O doutor esclareceu que o vírus da covid, Sars Cov 2, ataca as paredes das artérias e por causa disso ele se distribui por todo o organismo se perpetuando por vários órgãos, e consequentemente, pode causar sequelas múltiplas em diferentes sistemas do organismo. Isso explica o fato de tantos sintomas em diferentes partes do corpo.

“A fadiga e o cansaço atingem cerca de 60% das pessoas que tiveram covid. Muitos pacientes reclamam de um cansaço, quase que uma preguiça. Não chega a ser falta de ar, a saturação está boa, mas existe esse cansaço, que em Cuiabá fala leseira, que perdurou por pelo menos 30 dias”, destacou o médico.

Duração das sequelas no pós-covid

Germano explicou que as sequelas ou sintomas no ‘pós-covid’, em sua grande maioria, podem passar em alguns meses, porém, há casos mais graves que podem durar pela vida toda.

“As sequelas da covid podem estar relacionadas, por exemplo, a uma lesão causada pela doença no pulmão de um paciente que tenha tido comprometimento de 90% e que ficou com uma fibrose no órgão. Nesse caso, muito provavelmente, essa pessoa vai sentir falta de ar pela vida toda. Já outros sintomas como cansaço, até mesmo confusão mental, esquecimentos, quadros psiquiátricos, gastrointestinais, entre outros, podem durar por alguns meses. Ainda estamos aprendendo, a covid tem pouco mais de um ano. Tenho pacientes que tiveram covid há mais de dez meses e ainda apresentam alguns desses sintomas”, explicou.

O doutor ressaltou que diante da permanência desses sintomas o ideal é procurar ajuda médica para uma avaliação e prescrição adequada para o tratamento dessas sequelas. Há medicações e suplementações que podem ajudar.

As sequelas ou Long-Covid não atingem apenas os pacientes que tiveram quadro clínico grave, mas também pessoas que tiveram sintomas leves durante a infecção e demoraram para voltar a ter paladar ou olfato, por exemplo.

Sequelas que podem levar à morte

Germano explicou que pelo fato de o vírus da covid atacar as paredes das artérias há uma tendência de formação de trombos e embolias que se não tratadas podem levar o paciente à morte. Ressaltou ainda os cuidados para se proteger de infecções secundárias.

“Alguns pacientes que tiveram a covid com um quadro clínico mais grave podem continuar com a tendência de formação de trombos e embolias mesmo após a cura. Então é necessário o uso de anticoagulantes por um tempo maior, corticoidese acompanhamento médico. Depois que o paciente passa da fase aguda da doença, os maiores riscos à vida são infecções secundárias, devido à diminuição da imunidade, tromboses e embolias”.

Tratamento e Sequelas

Falando sobre os tratamentos durante a doença e questionado se as sequelas são uma reação independente do corpo ou causadas por um ‘tratamento inadequado’, Germano descreveu sobre estudos que mostram que a administração de medicamentos polêmicos como hidroxicloroquina e ivermectina na fase inicial podem ajudar a reduzir ou precaver sintomas do pós-covid.

“Tem se aventado a hipótese de que pessoas que fazem uso de medicações reposicionadas e que tem propriedades antivirais, como a hidroxicloroquina e ivermectina, e fizeram uso na fase inicial, tendem a ter menos sintomas, ou sequelas, no pós-covid. Essas duas medicações, comprovadamente, têm propriedades anti-inflamatórias e imunomediação que pode ser benéfico nos pacientes com covid longo”.

“A covid pode causar uma inflamação do músculo cardíaco, que a gente chama de miocardite. Essa complicação pode desencadear ainda a pericardite, que é a inflamação da membrana que reveste o coração.

Depressão e outras sequelas psiquiátricas no Long-covid

As sequelas neuropsiquiátricas são muito características no pós-covid. Sintomas como esquecimento, letargia, que é esse cansaço físico-mental, e até mesmo depressão podem acontecer após a cura da doença e podem ser tratadas.

Ainda ressaltando a depressão, o doutor ressalta que pode sim ser uma sequela, mas também uma causa, já que esse período de pandemia com tudo o que estamos vivendo podem também desencadear a doença.

“Os sintomas psiquiátricos podem ser ‘sequelas’ dessa covid de longa duração. Entre esses sintomas podem ter episódios de descompensações psiquiátricas que o paciente já tinha ou até diagnósticos novos, como a depressão, por exemplo. No entanto, temos que ter cuidado com o diagnóstico de depressão neste momento, onde vivemos o medo da covid, lockdown, isolamento social, pessoas com problemas graves financeiramente devido à pandemia. Então a depressão pode ser vista como uma causa e consequência”.

Sequelas cardíacas

Ainda sobre sequelas graves, o doutor explicou sobre as inflamações que podem atacar o músculo do coração e a membrana que reveste o coração causando miocardite e pericardite, respectivamente. Ressaltou ainda que embora a complicação possa ser uma sequela da covid, pode acontecer ainda durante o tratamento da doença na sua fase aguda.

“A covid pode causar uma inflamação do músculo cardíaco, que a gente chama de miocardite. Essa complicação pode desencadear ainda a pericardite, que é a inflamação da membrana que reveste o coração. Os sintomas que podem indicar essas complicações são palpitações, que muitos pacientes pós-covid relatam, pressão arterial desregulada, alta ou baixa, frequência cardíaca também desregulada. A miocardite é muito comum no durante e pós-covid e deve ser observada com muito cuidado e acompanhado por um médico”.

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