População é a maior aliada no combate ao caramujo africano em Rondônia
Molusco africano hospedeiro de nematoides (vermes) muito perigosos para a saúde, o caramujo-gigante-africano entrou no Brasil em 1983 como uma alternativa barata e irresponsável para produção do escargot, e acabou tornando-se um problema de saúde pública, pelo número de patologias (doenças) fatais que pode gerar.
De acordo com a médica veterinária Ana Nazaré Silva, coordenadora do Grupo de Vigilância em Saúde Ambiental da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), ante o problema que se criou com a proliferação desenfreada do caramujo (que se renova no período chuvoso), a Agência vem fazendo o trabalho de orientação das comunidades por meio das administrações municipais, com orientações dirigidas para escolas, associações, unidades de saúde, e com o importante trabalho dos agentes de saúde que levam informações e métodos de controle deste animal para as famílias.
A agente da Agevisa explicou que esse caracol (nome correto) pode transmitir ao ser humano o verme angiostrongylus costriacensis, que pode ocasionar graves problemas abdominais, causando perfurações intestinal, peritonite e hemorragia que, não sendo diagnosticada e tratada a tempo pode resultar na morte da pessoa infectada.
Essas são as doenças mais comuns transmitidas pelo caramujo africano, mas segundo a coordenadora da vigilância, um outro tipo de verme também transmitido por esse animal é o angiostrongylus cantonensis, que pode causar a meningite eosinofílica, que afeta o sistema nervoso central com graves reações inflamatórias, que nos casos mais graves podem levar a óbito.
A médica veterinária explicou que a situação da proliferação do caramujo-gigante-africano, por ser um problema de saúde pública, torna-se de responsabilidade de todos. Por isso, além do trabalho e orientação e controle promovido pelos órgãos públicos, cabe a população fazer a sua parte, e neste ponto ela repassa um conjunto de recomendações que podem ser adotadas no dia-a-dia por todas as pessoas.
RECOMENDAÇÕES DA AGEVISA
As recomendações da Agevisa foram alinhadas de modo didático para levar conhecimento, dar segurança e facilitar o trabalho das pessoas na luta contra esse animal, em sete pontos:
“1) O combate ao molusco deve se basear no correto conhecimento e catação manual das espécimes para posterior eliminação;
2) Ao coletar o molusco a pessoas deve se certificar que se trata de uma caramujo africano;
3) Os moluscos devem ser coletados sempre com proteção nas mãos, luvas descartáveis ou sacolas plásticas;
4) Não se deve usar veneno, sal ou outras substâncias que podem contaminar o ambiente e não afetam suas posturas (os ovos);
5) Por medida de segurança, lavar bem as frutas, hortaliças, verduras e legumes, e fazer a desinfecção com hipoclorito de sódio (colocar em imersão em uma colher de chá de água sanitária para um litro de água, por um período de 15 a 30 minutos), antes de consumir esses alimentos;
6) O excesso de plantas, matos e entulhos no quintal servem de criadouro para o caramujo;
7) Um caramujo-africano pode botar em média até 400 ovos, por isso a infestação pode ocorrer rapidamente, o que exige um controle periódico”.
O combate tem de ser completo, ao caramujo e seus ovos, para evitar a super proliferação
O QUE É PRECISO SABER SOBRE O CARAMUJO
Reconhecida e declarada oficialmente como espécie invasora em 2015, o caramujo-gigante-africano está presente em diversas partes do planeta, especialmente na África, tendo sido introduzido ilegalmente no Brasil inicialmente no estado do Paraná na década de 1980, como alternativa econômica ao escargot (Helix aspersa), em uma feira agropecuária.
Com o insucesso do projeto e rápida proliferação do caramujo no ambiente, eis que tem poucos predadores naturais, tornou-se uma praga, inclusive nas áreas agrícolas e litorâneas, e atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Por incrível que possa parecer, em ambiente urbano o único predador desse molusco é o rato doméstico, que é outro animal que precisa ser controlado pelo risco de transmissão de várias doenças, incluindo a leptospirose.
Já nas áreas rurais, em ambientes silvestres no Brasil, há suspeitas de que é naturalmente controlado por gambás (Didelphis spp.) e cobras come-lesmas (espécies da família Colubridae), o que explica por que não se torna um problema em áreas de florestas conservadas e reservas naturais onde existam esses predadores, para o bem do meio ambiente.
Em sua orientação final, a veterinária da Agevisa ensinou que na estratégia de combate a esse molusco, além do método de captura, com os devidos cuidados, para o recolhimento pelas prefeituras, como ocorre em Presidente Médici e outras – com destinação em valas sanitariamente preparadas -, as pessoas precisam entender que não basta colocar sal ou veneno que contaminam o ambiente. Segundo ela, esta medida realmente elimina o molusco, mas cria com sua concha, no período de chuvas, um ambiente propício para reprodução de mosquitos que transmitem outras doenças, como dengue, febre amarela, chikungunya, zika, leishmaniose e malária, entre outras.