Saúde

Vacina anticâncer tem sucesso: mata tumor e imuniza

Desenvolvida a partir de uma plataforma computacional do Sistema de Saúde Mount Sinai, rede hospitalar de Nova York, uma vacina personalizada contra o câncer se mostrou segura e capaz de provocar reações imunológicas em pacientes com diferentes tipos da doença – incluindo pulmão e bexiga. Os resultados do ensaio clínico de fase I do imunizante foram apresentados recentemente durante a reunião anual da Associação Americana de Pesquisa do Câncer (AACR).

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Durante seis meses, treze pacientes receberam 10 doses do imunizante da equipe Mount Sinai. Dez volutários apresentavam diagnóstico de tumor sólido e três tinham mieloma múltiplo, câncer que atinge os glóbulos brancos da medula óssea. Junto à vacina, o grupo também recebeu o adjuvante poli-ICLC, substância que foi usada para induzir respostas imunes mais eficazes contra os chamados neoantígenos tumorais – novas sequências ou acúmulo de proteínas frequentemente não expressas ou expressas em níveis muito baixos.

Isso porque, ao contrário da maioria das vacinas experimentais contra o câncer, o imunizante foi administrado quando os pacientes já tinham passado por cirurgias de retirada de tumores sólidos ou transplante de medula óssea (nos casos de mieloma múltiplo) – e não na fase de metástase, quando células cancerígenas escapam de seu tecido originário e passam a formar novos tumores em outras partes do corpo. Não à toa: segundo os pesquisadores, estudos anteriores indicam que as imunoterapias tendem a ser mais eficazes em quadros de menor disseminação da doença – nessa fase, os resquícios de tumor são tipicamente microscópicos.

Para chegar à fórmula da vacina, os cientistas sequenciaram as cadeias de DNA e RNA do tumor e da linha germinativa dos pacientes. A partir do procecimento, foi possível identificar o alvo específico do tumor de cada participante – são esses alvos que o sistema imunológico precisa aprender a reconhecer e atacar a fim de prevenir a recorrência do câncer.

Criado pelo grupo OpenVax, que desenvolve softwares de código aberto para projetar vacinas personalizadas contra o câncer, a plataforma computacional do Mount Sinai (ou “pipeline computacional”) permitiu aos pesquisadores priorizar alvos imunogênicos mais eficazes para combater os tumores em questão – todos considerados de alta recorrência, como o de pulmão. Depois disso, esses compostos foram sintetizados e incorporados à vacina junto ao adjuvante.

Após um acompanhamento de 880 dias, os ensaios de fase I concluíram que quatro participantes não apresentavam evidências de células cancerígenas, ao passo que quatro estavam recebendo linhas de terapia subsequentes. Um paciente optou por não continuar nos testes – e outros quatro faleceram por motivos não relacionados ao imunizante.

De acordo com os pesquisadores, ainda, exames de sangue de dois pacientes mostraram que eles tiveram uma reposta robusta à imunoterapia após receber as injeções do produto. “Nossos resultados demonstram que o pipeline da OpenVax é uma abordagem viável para gerar uma vacina contra o câncer segura e personalizada, que poderia ser usada para tratar uma variedade de tipos de tumor”, avalia a Nina Bhardwaj, diretora do Programa de Imunoterapia do The Tisch Cancer Institute – centro de tratamento da doença do Mount Sinai – e autora da pesquisa, em comunicado.

Alternativa promissora

Vacinas contra o câncer são fundamentais para potencializar o tratamento contra o câncer, segundo Thomas Marron, diretor assistente de fase inicial e ensaios de imunoterapia do The Tisch Cancer Institute. “Embora a imunoterapia tenha revolucionado o tratamento do câncer, a grande maioria dos pacientes não experimenta uma resposta clínica significativa com esses tratamentos”, diz, em nota, o coautor do estudo.

Agora, os pesquisadores do Mount Sinai planejam expandir os ensaios clínicos de fase I para testar a tecnologia OpenVax com pelo menos outros quatro tipos de tumores malignos, como glioblastoma (o tipo mais comum e agressivo de câncer no cérebro), câncer de bexiga, de próstata e neoplasias mieloproliferativas – um tipo de câncer de sangue.

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