Videochamadas aproximam familiares de pacientes internados no Hospital Regional de Cacoal
O tratamento contra a covid-19 impacta diretamente nas relações familiares, uma vez que os pacientes ficam sem acompanhantes ou mesmo recebem visitas durante as internações. No entanto, desde o início da pandemia, o Governo de Rondônia, por meio da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), estabeleceu um plano de enfrentamento que tornou o Hospital Regional de Cacoal (HRC) em referência no tratamento de pacientes graves com doença.
Uma das medidas foi implementada pelo Serviço de Psicologia da unidade, que buscou alternativas para driblar o isolamento social. Utilizando a tecnologia, conseguiu restabelecer o contato dos pacientes com parentes e amigos enviando vídeos, áudios e até mesmo por videochamadas.
A humanização do atendimento aos pacientes em tratamento se estende, inclusive, aos pacientes intubados e sedados. Por meio de áudio, familiares conversam, enviam mensagens de apoio, relembram histórias, falam sobre gostos e hobbies do paciente e até mesmo contam novidades que possam alegrá-los.
Desde o início da pandemia, a ala covid-19 do Hospital Regional de Cacoal tem atendido, em média, 50 pacientes diariamente. Em praticamente todos os casos, familiares e os próprios pacientes tem optado por esse recurso e aproveitado a oportunidade de manter o contato.
“Considerando as suspensões de visitas nos ambientes hospitalares e a importância de desenvolvermos estratégias humanizadas para a manutenção dos vínculos entre pacientes e familiares, contribuindo com o processo de recuperação, o Serviço de Psicologia do HRC realiza estímulos aos pacientes acordados e sedados com a reprodução de áudios e vídeos encaminhados por seus familiares”, destaca Nádia Maria Silva Montelo, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Psicologia do Hospital Regional, que conta com outros seis profissionais. Também é garantido aos pacientes que estão em melhores condições momentos diários para o banho de sol, ajudando a revigorar as energias.
Conforme a psicóloga, quando os pacientes encontram-se acordados, após avaliação e consentimento próprio, é possível realizar as “visitas virtuais”, por meio de videochamadas aos familiares. O objetivo é fortalecer ainda mais os vínculos e contribuir com o processo de recuperação e alta. “Por esse modelo remoto também realizamos a acolhida, psicoeducação e repassamos orientações aos familiares quanto às normas e rotinas hospitalares. Também agimos como facilitadores da comunicação entre os familiares e a equipe multiprofissional do HRC”, esclarece.
Nádia destaca ainda que, por meio da escuta ativa dos familiares, é possível perceber se eles estão compreendendo o quadro clínico, se possuem dúvidas, se compreendem a gravidade do caso, quando existe, e como estão vivenciando o momento da hospitalização de seu familiar. “Pelo formato remoto também prestamos todo o acolhimento quando em más notícias, ofertando escuta e apoio imediato”, ressalta.
Sobre a importância deste Serviço, a psicóloga fala do retorno que recebem dos pacientes e dos familiares. “Não estipulamos tempo para essa interação. Deixamos que se sintam confortáveis e a vontade. O próprio paciente acordado verbaliza a importância dessa experiência e alguns pacientes inconscientes, quando acordam, às vezes conseguem lembrar destes momentos. Por sua vez, as famílias agradecem sempre”, emociona-se a profissional.
ANGÚSTIA REDUZIDA
No início do ano, o caminhoneiro Carlos Pinheiro, de 53 anos, foi acometido pela covid-19. Por 40 dias ele precisou de cuidados médicos no Hospital Regional de Cacoal e, em 15 deles, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Mesmo quando ficou inconsciente, o carinho e a força da família chegavam ao caminhoneiro por meio do Serviço de Psicologia do HRC.
“Quando eu acordei da UTI, eu fui muito feliz quando vi o vídeo da minha família. Vi eles conversando comigo, me senti muito bem. Eu achei que nunca mais iria ver eles na minha frente e assim que eu saí da UTI, eu consegui conversar com eles. Isso me fez bem, me deu forças. Uma felicidade imensa por Deus ter colocado a mão na minha cabeça e me dado mais uma oportunidade de vida”, destacou o caminhoneiro.
Para a filha de Carlos, a policial militar Camila Pinheiro, a possibilidade de conversar com o pai trouxe um pouco de alívio diante de tanta angústia e sofrimento. “Essa possibilidade é essencial para que possamos sentir a presença do nosso ente querido, mesmo que por videochamada. É uma ligação sem comparação. Poder estar perto e ver que ele está vivo, é surreal”.
Aos que estão enfrentando a covid-19 ou qualquer outro momento de dificuldades, a policial militar faz questão de deixar uma mensagem. “Temos que ter fé e procurar entender todas as lições que Deus tem a nos dar, seja em circunstâncias boas ou ruins. Nunca percam a fé, pois o milagre vem a partir dela e Deus está ao nosso lado ouvindo nossa angústia e também nossa gratidão. É possível sentir o milagre diariamente. Por isso, agradeça pelo ar, pelo dia, pela noite, por tudo e dai graças a Deus, que é quem nos dá milagres a todo instante”, destaca.
EMOÇÃO
Para a psicóloga do Serviço de Psicologia do Hospital Regional de Cacoal, o enfrentamento à covid-19 trouxe um novo momento tanto para a sua jornada profissional, como ser humano. “O que faz ter sentido para mim é saber que, em um momento tão difícil e doloroso, para pacientes e familiares, conseguimos ser ponte de vínculos. É como se fôssemos uma ponte de afeto. Os áudios, vídeos e as chamadas de vídeo são cheias de amor, de esperança, de desejo de recuperação e cura, são verdadeiros e são emocionantes”.
De acordo com Nádia, a emoção é diária. “Na verdade, pensando na pandemia, nos emocionamos diariamente, é muito intenso. Ao mesmo tempo em que tem muita vida que se recupera, infelizmente perdemos muito. Não são dias fáceis, são muitas perdas, são jovens, são não tão jovens, são mais de uma pessoa por família. São famílias devastadas por esse vírus, mas que naquele momento, nos minutos da chamada, tudo muda! É amor, é carinho, é cuidado”, finaliza a psicóloga do Hospital Regional de Cacoal.
HCR REFERÊNCIA
O plano do Governo de Rondônia que transformou o Hospital Regional de Cacoal (HRC) em referência no tratamento de pacientes graves com covid-19, incluiu diversas medidas adotadas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), como investimentos que garantiram a qualidade e efetividade do serviço, a adequação da estrutura física do Hospital, que passou a contar com a Unidade covid-19, exclusiva para atendimento dos pacientes que necessitam de internação quando confirmado o diagnóstico, ou casos suspeitos, encaminhados pelas secretarias municipais de saúde. Desde então, aproximadamente dois mil pacientes foram atendidos no HRC.
A Unidade conta com triagem, sala de medicação, sala de estabilização, enfermarias com leitos clínicos e também Unidades de Terapia Intensiva (UTI) equipadas com respiradores. Há ainda sala de equipamentos, vestiários de barreira, sala de espera, rouparia e uma sala de repouso para as equipes em atuação.