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SOBRIEDADE: Bebida alcoólica deve ser evitada na quarentena, diz especialista
As medidas de isolamento social completam 60 dias e muitos mineiros têm guardado corretamente a quarentena, conforme orienta a Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas ficar tanto tempo em caso não é tarefa fácil. Frente ao tédio e até mesmo a solidão, muitos têm recorrido a um inocente copo de vinho ou uma cerveja gelada. No entanto, no ato mora o perigo. O alerta é da professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Ana Lúcia Brunialti Godart.
“O uso abusivo de álcool não é recomendado em nenhum momento, mas passamos por período ainda mais atípico. A maioria nunca passou por isso” afirma. A preocupação se dirige tanto a quem é “alcoolista”, ou seja viciado em álcool, quanto aos que fazem uso da substância de maneira recreativa. Entre os alcoolistas, o risco são as recaídas e a violência que advém do vício. Já quem consome para fins recreativos, o álcool pode perder a função de alívio e tornar-se fonte de depressão e outros sofrimentos.
Aumento no consumo
A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Droga registou aumento, em abril, em relação ao período anterior à quarentena em março, nas vendas de bebidas alcoólicas, 38% em distribuidoras e 27% em supermercados. De acordo com a especialista, cerca de 12% da população é dependente, mas esse número pode aumentar na quarentena. “Esse número pode aumentar em função novo hábito que população está adotando”, diz.
A busca pelo álcool ocorre como forma de amenizar os efeitos negativos de ter que ficar em casa por período tão longo. “A situação é de muito estresse. As pessoas estão sozinhas, fechadas. O álcool é uma fuga no início. Traz bem estar prazer e alívio da tensão”, diz a especialista.
No entanto, a dependência chega sem avisar. “É aos poucos, passo a passo. A pessoa toma a segunda, terceira e quarta vez. A dependência vem do hábito. A passa a consumir doses maiores”, alerta.
Dependência chega sem avisar
O consumo, que era prazer, transforma-se em outros sentimentos. O álcool começa trazer ansiedade, depressão e impulsividade. “O álcool é uma droga psicotrópica. A primeira reação do cérebro que é ‘fiquei feliz’ muda”, afirma. A pessoa começa a depender da bebida para se sentir normal.
A especialista lembra que é difícil saber quando o limite do consumo recreativo foi ultrapassado. “É como uma dieta. Algumas pessoas fazem muito bem. Outras perdem o controle.” Algumas pessoas tomam a bebida no sábado e passam a semana bem. Para outras, beber se transforma em hábito.
“A pessoa pensa que só consegue dormir se tomar um copo de vinho. No momento de quarentena, no primeiro momento faz uma associação positiva com álcool. Mas, no final das conta, é negativo. Vai gerar dependência.”
Os dados indicam que há um aumento do consumo entre as mulheres. A especialista lembra o estresse a que muitas mulheres estão submetidas com a quarentena, com as responsabilidades de cuidar da casa, dos filhos e ter a presença dos companheiros por um tempo maior em casa.
A especialista alerta que as entidades que atendem os alcoolistas seguem em funcionamento, como é o caso do Alcoólatras Anônimos (AA) e Cento de Referência em Álcool e Outras Droas (CREAD). “O AA mantém as reuniões on-line”, afirma. Ela defende que haja uma regulação feita pelo governo da venda de álcool. Conforme lembra, o governo do Piauí proibiu a venda de bebida nos fins de semana.